"Ser saudável não é apenas sobre o que se come. É também sobre o que se pensa, diz e faz!"

 

100 palavras para fazer pensar.  Até que o pensar eclode…sem palavras.

 

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POR ODAIR BRUZOS

229
Hitler começou sendo eleito maciçamente pelo povo alemão. Sabemos o que isso gerou... Hoje, povos muito menos cultos estão praticando idênticos descalabros. O que leva pobres, negros, mulheres, homossexuais, imigrantes a votarem em ricos, em racistas, em pessoas absolutamente más, que não respeitam as diferenças? Pior, ainda, fazem tudo isso em nome de um deus.
Que deus é esse? Se Deus não for puro Amor, prefiro ser radicalmente ateu!  Dá vergonha alheia... Essas escolhas péssimas podem empobrecer ainda mais os pobres e discriminar ainda mais os discriminados. 
Nunca estive num momento de maior desânimo na minha vida. 
Dá vergonha alheia...

 

Publicado na edição 768 da Revista Ria de 09/09/2024

228
Crime dos mais comentados dos últimos tempos, o homicídio de uma vereadora do Rio de Janeiro e de seu motorista foi julgado dias atrás. Um dos executores pediu perdão por sua conduta. O Brasil, então, uniu-se numa voz, rechaçando com agressividade qualquer possibilidade de perdão. 
A maior parte dessas vozes é de pessoas que se dizem cristãs. Ocorre que frequentar templos, ler a Bíblia, cantar salmos, tudo isso é fácil. Já perdoar... Não, eu também acredito que não o perdoaria. Não bato no peito, porém, alardeando que sou cristão. 
Alguém poderia perdoar? Francisco de Assis? Chico Xavier?
Amar é difícil...

 

Publicado na edição 767 da Revista Ria de 02/09/2024

227
Somos muito incongruentes. Sabemos o que devemos fazer para alcançarmos
uma vida plena, mas, geralmente, fazemos tudo errado. Vivemos, na prática,
aquele bordão: faça o que eu digo, não faça o que eu faço, sempre buscando
dar a impressão de que fazemos tudo certo. Nesta semana, uma leitora de 100
Palavras me chamou de hipócrita. Fiquei surpreso, ofendido. Em segundos,
porém, passaram pela minha cabeça todos os textos que já escrevi. Constatei,
envergonhado, como sempre estive distante de agir da maneira mais correta.
Nesse instante, sofri. No seguinte, porém, eu me lembrei: sou humano, posso
voltar a tentar. E vou!

 

Publicado na edição 757 da Revista Ria de 24/08/2024

226
Dizem que o dinheiro não traz felicidade, mas sim manda buscá-la. Será verdade? Realmente, com dinheiro podemos comprar um palácio com mil camas. Nenhum dinheiro, porém, pode comprar um verdadeiro Lar, nem uma noite de sono tranquilo. 
Com ele, podemos comprar vários cruzeiros pelo mundo. Não podemos garantir, porém, nenhuma amizade sincera em algum dos portos visitados. 
Imagino que a primeira Ferrari a gente nunca esqueça. Já na trigésima, talvez a única sensação seja um tédio oco, vazio, desesperador...
Não podemos negar a utilidade do dinheiro na sociedade capitalista em que vivemos. 
Sim, ele é útil; nada mais que isso.

 

Publicado na edição 756 da Revista Ria de 17/08/2024

225
A maior ilusão dos seres humanos é e sempre foi esta: pensarmos que temos
controle sobre nossas vidas, nossas escolhas, nossos caminhos. Que
pretensão boba... Na verdade, não sabemos nada, não temos garantia de
nada. Não creio que nosso destino já esteja escrito (“Makhtub“). Penso,
porém, no conceito do místico Gurdjieff, de que somos simples máquinas. O
“Eclesiastes” também toca, indiretamente, nessa ausência de controle (ou seria
de sentido?). Eu resumiria assim: não vivemos, mas sim somos vividos... Isso
vale para todos? Infelizmente, sim, salvo raríssimas pessoas que despertaram,
que alcançaram a Luz nesta cama escura que se chama Terra.

 

Publicado na edição 755 da Revista Ria de 11/08/2024

224
Conversava com um amigo. Outro se aproximou e disse, feliz, que fazia uma
semana que fumava um cigarro a menos por dia. Dei parabéns. Meu primeiro
interlocutor falou, então, com ar de possuir toda a sabedoria do mundo,
demonstrando desprezo pela alegria do recém-chegado, que aquilo não valia
nada; só teria valor largar totalmente o vício. Fiquei triste e revoltado ao ver como
aquelas pedradas verbais causaram tristeza e aparência de fracasso no fumante
arrependido. Realmente, uns aram, adubam, semeiam, regam; outros, jogam sal...
Alguns comandantes inspiram a tripulação, salvando navios das piores
tormentas; outros acabam afundando-os até na calmaria...

 

Publicado na edição 754 da Revista Ria de 03/08/2024

223
O que era nome? Jogou sua caça no chão da caverna. Ugh! Já ia começar a comer,
mas ouviu aquele ugh fino. Foi espiar. Era aquela pessoa com cabelos compridos e
dois volumes estranhos no peito. Por falar em peito, seu coração disparou. Queria
convidá-la para comer com ele, mas não conseguia soltar nem um ugh... William
estacionou seu carro elérico, pegou seu Iphone 15. Que elevador rápido! Alexa,
acenda as luzes; ligue a cafeteira! Esqueceu a pasta no carro. Chamou o elevador.
Aquela vizinha saiu. O coração de William disparou. Queia convidá-la para um café,
mas sua fala travou...

 

ÁUDIO REFERENTE AO TEXTO 

Publicado na edição 753 da Revista Ria de 27/07/2024

 

222

 

Como perdemos tempo com bobagens... Ter razão, “ganhar” uma discussão, vencer: e daí? Ficar sem falar com a pessoa amada: para quê? “Ficar de mal” com aquele amigo: vale a pena? Eu já fiz todas essas besteiras e sempre acabei che-gando à mesma con-clusão: que bobagem... Que perda de tempo... Que desperdício... Quantas oportunidades jogadas fora... Em geral, podemos deixar de ser bobos a tempo. Às vezes, porém, perdemos essa oportunidade. Corremos o risco, então, de cairmos no lamaçal do remorso... Isso também é perda de tempo... 
O que fazer? 
Perdoar, conversar, amar já, agora! 
Isso é sinônimo de VIVER.
Publicado na edição 698 da Revista Ria de 08/07/2023

 

221

Começamos a morrer, quando damos nossa primeira respiração. A partir dela, renascemos a cada respiração, até que chega a última. Tudo isso pode ter o nome de vida ou Vida. Uma vida nada mais é que o caminho traçado horizontalmente da maternidade ao cemitério. Só conseguimos trilhar esse caminho sem ficarmos loucos, porque temos a crença de que somos imortais, de que nunca chegaremos ao seu final, de que, depois do cemitério, a vida continuará. Já a Vida verdadeira consiste na percepção (lembrança!) de que somos a Eternidade, num aprofundamento vertical de aquis e agoras: já somos tudo que buscamos.

Publicado na edição 685 da Revista Ria de 08/04/2023

 

220

A estupidez sempre esteve presente no Mundo. Nos últimos anos, porém, ela atingiu níveis absurdos, impulsionada, em grande parte, pelos lixões das redes sociais.

A Itália voltou ao fascismo (a França passou raspando). Na Suécia, o nazismo vem ganhando fôlego. Esse hospício se alarga, em lugares longíquos ou perto (até muito...muito perto) de nós, com as “boiadas” passando...

As galinhas são tidas como animais não muito inteligentes; nenhuma delas, porém, chama raposas para tomarem conta do galinheiro. Muitos de nós, ao contrário (e com orgulho!!!), defendemos ditadura, praticamos o racismo, cultuamos o ódio, destruímos nosso planeta. Motoristas são explorados por aplicativos, sem nenhum direito trabalhista, sem nenhuma garantia para sua família, mas se sentem...empresários, saindo em defesa de suas raposas. Ricos cada vez mais ricos; pobres cada vez mais pobres...em tudo... Já não se trata “só” de uma terra plana: é a terra plana...e oca. Já não restaram o Tico e o Teco como nossos dois últimos neurônios: sobraram um Tico maluco e um Catatau sem memória.

A Estupidez está acima de todos, e o Mal está acima de tudo! Esse quadro pode mudar? Sim! Por quem? Por todos nós. Basta colocarmos o Amor acima de todos e a Paz acima de tudo. Ainda podemos dar vida ao refrão do Chico Buarque: “Amanhã vai ser outro dia!”. Bastam para isso nossa consciência banhada na inteligência e na Verdade e nossa ação regida pela responsabilidade perante as novas gerações. Na pior das hipóteses, podemos, todos os dias, abraçar a possibilidade do Bem, em lugar da certeza do Mal. Inteligência! Amor! Paz! Vida!

Se não ultrapassasse as 100 palavras, correria o risco de ser condenado a sempre ficar...sem palavras...

Publicado na edição 662 da Revista Ria de 30/10/2022

 

219

Os indígenas, então donos da América, não trocaram terra, liberdade e vida por espelhinhos. Os invasores tomaram tudo por meio da força brutal, usando pólvora, doença e pérfida doutrinação. Hoje, os espelhinhos recebem outros nomes (“smartphones”, “tablets”, aplicativos, redes sociais, “marketplaces”), e os invasores foram substituídos por uma dezena de empresas vorazes. No lugar daqueles indígenas, nós, passivos consumidores hipnotizados por mentiras. Resultado? Terra plana dominada pela estupidez, onde “cristãos” louvam armas, explorados cultuam exploradores, a Ciência é desprezada, pobres uberizados se consideram empresários. Inteligência, Compaixão e Solidariedade definham. Mas tudo bem: o Iphone 14 e o 5G já chegaram!

Publicado na edição 658 da Revista Ria de 01/10/2022

218

Para mim, estas sempre foram as coisas mais importantes da vida: boa saúde, liberdade, um bom trabalho, uma boa casa, uma boa escola, lazer e, por fim, uma aposentadoria boa, segura.  Além disso, uma família, é clraro, para compartilhar a caminhada. Já não penso assim... A acentuação de descalabros dos últimos anos, promovida pelos Trumps mundo afora e seus apoiadores, num caminho rumo à destruição da mínima Civilização, definiu o que é mais importante em qualquer sociedade humana: o voto com responsabilidade. Sem ele, não há saúde, liberdade, dignidade, sobrevivência corporal e intelectual. Sem ele, não há Vida na Terra.

 

Publicado na edição 643 da Revista Ria de 18/06/2022

217

Num filme, um personagem, dia após dia, desperta na mesma data, tendo consciência disso.  Trata-se de viver no inferno.  
A Humanidade nunca foi muito inteligente, mas há momentos, porém, em que a ignorância ultrapassa todos os limites, como ocorre no Brasil dos últimos seis anos, num apagão da inteligência e da decência.  Com o mau uso da Internet, essa gangrena social se alastra e se orgulha da própria ignorância...  Sua semente, seu oxigênio: o ressentimento, que é sentir o mesmo ódio - dia após dia - por ser tão irrelevante.  Não apenas vivem no inferno; querem o inferno para todos...

 

Publicado na edição 633 da Revista Ria de 10/04/2022

 

216

O linguista russo Roman Jakobson relacionou seis elementos do processo de comunicação: emissor, receptor, canal, código, contexto e mensagem. Se algum falha, surge o "ruído".  Penso que o mais importante processo de comunicação - o diálogo - em termos de quantidade de pessoas, merece uma observação.  Outras duas convidadas de honra precisam estar presentes: a Verdade e a Boa Vontade.  Uma quinta presença pode, em questões e ocasiões específicas, trazer mais vida ao diálogo, povoando-o de luz, beleza, perfume, música, humanidade: o Sonho.  Sem a Verdade e a Boa Vontade, porém, restam apenas barulho de guerra ou silêncio de tumba...

Publicado na edição 632 da Revista Ria de 03/04/2022

 

215

Casais sem problemas em sua relação?  Só se forem mortos-vivos...  Fingir que está tudo bem é "viver" vidas mortas. É humana a existência de problemas, mas algo pode, precisa ser feito: discutir a relação (a famosa DR).  Para isso, precisamos de solo (Consciência), Sol (boa vontade) e água (Compaixão). Uma DR criativa nasce de sementes de "eu cedo, você cede", gerando raiz e caule fortes, duradouros; flores belas, perfumadas; frutos fartos, saborosos, férteis.  Únicas pragas: egoísmo e baixa auto-estima. Único remédio: não buscar apenas ganhar a discussão, mas sim vivificar a relação.  Seja qual for o resultado, escolha sempre viver!
Publicado na edição 631 da Revista Ria de 27/03/2022

 

214

Quase todas as pessoas "vivem" perdidas, como se caminhassem por um longo túnel desconhecido, com início, trajeto e destino desconhecidos. Caminhar ao lado delas, ajudando-as na caminhada, merece aplausos. Tentar ser farol no final do túnel é, ainda, mais compassivo.  Há, porém, raríssimas pessoas que, mesmo com pouca luz para si mesmas, transformam-se em palito de fósforo, buscando iluminar caminhos, mesmo com chama pequena e fugaz. Algumas chegam a uma doação total, oferecendo essa chama para secar lágrimas. Quem atinge tal nível de Amor salta do humano para o Divino, para o Eterno. Todos podemos. Queremos? O resto é vaidade...

Publicado na edição 624 da Revista Ria de 05/02/2022

 

213

Disseram que ele estava logo ali, depois da esquina.  A pessoa que mais mal me fez; que prejudicou minha saúde física e mental; que matou tantos sonhos que tive; que tanto mal fez a todos que amo. 
Deixei de lado a Compaixão e a capacidade de perdoar que pensava possuir, indo, armado, ao seu encontro. Na esquina,  entrei naquele beco sem saída, vazio. Todas as paredes estavam cobertas por espelhos. Então a ira se transformou em lágrimas; as lágrimas viraram perdão. 
Virei-me, saí de lá. A culpa sem saída se fez caminhada rumo à Luz. 
O nome disso é Vida.

Publicado na edição 622 da Revista Ria de 22/01/2022

 

212

Dizem que a pandemia sepultou o antigo “normal”; que, agora, precisamos implantar o “novo normal”. Pura bobagem... Salvo as tristes consequências, inclusive mortais, dessa tragédia, tudo continuou “normal”: ignorantes continuaram ignorantes, espertalhões continuaram espertalhões, omissos continuaram omissos, destruidores da Natureza continuaram a destruir. Votou-se mal, governou-se mal, e o povo continuou e continua mugindo pacificamente. Os empresários continuam ganhando demais, os trabalhadores, de menos; os banqueiros, falta adjetivo. Poderosos continuaram pisoteando corpos e mentes. Dez pessoas, físicas ou jurídicas, mastigam quase toda a riqueza do planeta. Tudo normal, como sempre. 
Não precisamos de novos rumos. 
Precisamos de um novo prumo!

Publicado na edição 619 da Revista Ria de 01/01/2022

 

211

É irrelevante você crer ou não no nascer do Sol. Ele nasce, iluminando e aquecendo todos os seres. Importante, pois, é sentir sua luz, seu calor, a circulação de Vida que ele gera. Também é irrelevante você crer ou não em Deus. Se ele não existir, sua fé será uma alucinação. Se ele existir, deve jogar incessantemente raios de Amor sobre todos os seres. Não fosse assim, seria, no máximo, um deuzinho à imagem da nossa pequenez. Em vez de crer e querer que todos creiam como você, receba e frutifique seus raios. Ou Deus é menor que o Sol?

Publicado na edição 617 da Revista Ria de 18/12/2021

 

210

A Física, definindo direção e sentido, ensina-nos a viver. Direção é, por exemplo, uma linha horizontal entre A e B. O sentido poderia ser de A para B, ou o inverso. Quando agredidos, respondemos apenas com a mudança do sentido do mal recebido, ou seja: mantemos a horizontalidade da relação e devolvemos a ofensa (muitas vezes, aliás, aumentada). Deveríamos, primeiramente, alterar a direção para uma linha vertical do Inferno ao Divino. Depois, deveríamos mudar o sentido dessa energia negativa, que vai da Luz para as trevas. Empatia, amor e perdão mudam esse sentido. Aparece a Luz no fim da ignorância!

Publicado na edição 613 da Revista Ria de 13/11/2021

 

209

Optlink é o nome de uma empresa de acesso à Internet. Minha mulher tentou cancelar nosso plano por três vezes. Depois de uma hora ouvindo música de espera e de três longos atendimentos abruptamente interrompidos, desistiu. Ninguém ligou de volta... Ao saber desses absurdos, a ira e a sede de vingança me invadiram. Acabaram, porém, suplantadas pela minha compaixão, pelo meu perdão. Resta, porém, a sede de Justiça. Que essa e outras empresas respeitem seus clientes. Que os consumidores sejam ativos na busca por respeito, inclusive exercendo o boicote. Esse respeito é Espiritualidade. Já o desrespeito tem cheiro de enxofre...

Publicado na edição 608 da Revista Ria de 16/10/2021

 

208

A vida não tem sentido. É apenas um rio que nos leva da maternidade ao cemitério. Como temos pavor disso, buscamos resistir à correnteza, inventando máquinas e poções capazes de nos tornar imortais. Também tentamos fugir dela usando drogas ou criando alucinações coletivas, como um céu governado por um ou vários deuses, onde a morte não existiria.
Se aceitássemos, ativa, total e profundamente, essa correnteza, sentiríamos sua beleza e seu perfume: do primeiro choro ao último suspiro; nos sorrisos e nas lágrimas. Isso se chama Vida Plena. Não, não é imortal.
De tão profunda, porém, torna-se Eterna em cada segundo.

Publicado na edição 608 da Revista Ria de 09/10/2021

 

207

Cumprimento balançando a cabeça. Não dou o generalizado soquinho no dorso da mão. Se o soquinho pode, por que não o aperto de mão, o abraço, o beijo? O risco seria igual. Num escritório com dez pessoas, pediram-me para tirar a máscara. Recusei-me, mesmo diante da abertura da porta. Não sabem que o vírus permanece no ar por até quatro horas? Se tirasse a máscara ali, por que não abandoná-la permanentemente? As pessoas não sabem o que fazem, muito menos por que o fazem. Pensam que a pandemia acabou, numa louca fuga da realidade. É mais um mito (também mortal)...

Publicado na edição 60da Revista Ria de 02/10/2021

 

206

Passamos a vida buscando riqueza, poder, prazer, fama. Nessa busca, mentimos, agredimos, jogamos no lixo a última gota de honra. Em algumas poucas situações, percebemos que essa busca não passa de uma febre fanaticamente maluca e vazia. Diante, por exemplo, do diagnóstico de uma doença gravíssima, percebemos como toda aquela busca é uma bobagem. Isso também ocorre quando a morte leva consigo pessoas que amamos. Percebemos, então, como as coisas mais importantes são outras: ver o Sol nascer, almoçar com a família e verdadeiros amigo, trocar a água do cachorro fiel. Se abandonássemos permanentemente aquela busca, descobriríamos a verdadeira Vida

Publicado na edição 605 da Revista Ria de 18/09/2021

 

205

Crer ou não na morte é irrelevante. Desde o nascimento, nós e ela caminhamos para um encontro inevitável. Não erguemos templos à morte, não damos dízimo a pastores que dizem representá-la. Simplesmente vamos morrendo a cada segundo. O nome disso, porém, é viver. Da mesma forma, crer ou não em Deus também é irrelevante. Se ele não existir, essa irrelevância grita. Se Deus realmente existe, sendo onipotente, onipresente, onisciente, puro Amor, ele nos ama, acreditemos ou não nele. Então, para que templos, dízimos, pastores? Ou Deus é menor que a morte? Só nos resta, portanto, amar. É sinônimo de viver

Publicado na edição 604 da Revista Ria de 11/09/2021

 

 204

Nunca vi tantos ignorantes defendendo pautas tão ignorantes, apoiando líderes tão ignorantes, que se cercam de auxiliares tão ignorantes. É o fanatismo da ignorância. É claro, porém, que esse fanatismo também leva a coisas boas. Nas próximas cinquenta e quatro palavras, relacionarei algumas dessas coisas boas.

 Publicado na edição 603 da Revista Ria de 04/09/2021

203

Nunca vi tantos ignorantes defendendo pautas tão ignorantes, apoiando líderes tão ignorantes, que se cercam de auxiliares tão ignorantes. É o fanatismo da ignorância. É claro, porém, que esse fanatismo também leva a coisas boas. Como dizem que uma imagem fala mais do que mil palavras, ilustro abaixo essas coisas boas, em vez de escrever as 38 palavras que faltam para 100:

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Imagem: Secretaria de Saúde da PM de manaus

Publicado na edição 603 da Revista Ria de 04/09/2021

100niver.jpg

Publicado na edição 558 da Revista Ria de 24/10/2020

 

202

Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?! Até quando?!

Publicado na edição 600 da Revista Ria de 14/08/2021

201

Imagine um péssimo cozinheiro fazendo, por décadas, tudo errado. Irresponsável, porcalhão, mentiroso, cuspindo nos pratos, pegando para si parte da caixinha dos colegas, sendo preconceituoso, grosseiro com todos, violento, maldosamente fofoqueiro, mentindo sempre, sem nenhuma vergonha. Imagine que, num momento de maluquice, o dono do restaurante resolvesse colocá-lo na gerência, por quatro anos. Imagine que, como gerente, esse cozinheiro diabólico nada administrasse, buscando apenas ficar para sempre no cargo. Diante desse caos, o restaurante estava desabando. O dono, porém, aceitava tudo, bovinamente calado... Ainda bem que, na vida real, isso não acontece, né? Que alívio!
(Pelo menos, não em restaurantes...né?)

Publicado na edição 599 da Revista Ria de 07/08/2021

 

200

Sempre existiram pessoas más, desprezíveis, repugnantes. Estavam num período de certa inércia, ocultas pela poeira da irrelevância, mantendo as aparências do minimamente humano. Com as redes sociais, porém, novamente ganharam voz e vez. Num tsunami de ignorância bruta, levaram ao poder de várias nações seres tão repugnantes como elas. Fez-se o caos, então. Já não se envergonham de expor sua ignorância, suas mentiras, sua maldade. Orgulham-se disso, até. Falsa e hipocritamente, dizem agir em nome da família, da pátria, de Cristo, embora não tenham empatia; só busquem seus interesses mesquinhos; seu Cristo seja
armamentista, preconceituoso, destrutivo, mentiroso. São muitos. Legião.

Publicado na edição 598 da Revista Ria de 31/07/2021

 

199

A Vida é um tabuleiro sobre o qual montamos um quebra-cabeça. Cada ação que empreendemos é uma peça. Quando agimos bem, geramos peças perfeitas, harmônicas. Quando agimos mal, a peça não encaixa, fica desparceirada. Depois dos tsunamis da juventude e dos ventos da vida adulta, o tabuleiro costuma estar uma bagunça. Isso nos entristece, gerando culpa e arrependimento, que só vão gerar mais peças defeituosas. Se, porém, tentarmos fazer as reparações possíveis, se tentarmos, finalmente, agir bem, nossa visão do tabuleiro muda. Em vez de peças defeituosas, veremos estrelas ímpares, brilhantes, geradas por humanos que erram, mas sempre podem recomeçar.

Publicado na edição 597 da Revista Ria de 24/07/2021

 

198

Que saudade daquele 7X1 perante a Alemanha, na Copa de 2014, no estádio do Mineirão...
Hoje, em todos os estádios, estados e municípios brasileiros, estamos perdendo de 14X1. A Índia, com aproximadamente 1,4 bilhão de habitantes, tem cerca de 7 vezes a população do Brasil. Registrou, até agora, mais de 200 mil mortes pela Covid-19. O Brasil, com a “seleção” negacionista que o “governa” e o silêncio bovino, insensível do povo, já ultrapassou o dobro desse número. Resumindo: 14 vezes mais mortes, proporcionalmente! Todos nós, com ignorantes ações, mortais inações e hipócritas omissões, construímos e mantemos esse terror. Até quando?

Publicado na edição 585 da Revista Ria de 01/05/2021

 

197

Um médico foi filmado, no interior de SP, recusando-se a usar máscara e ironizando o pedido da paciente para que o fizesse. Não vou publicar os adjetivos que imagino para qualificar essa triste, perigosa, maldosa postura de um “profissional” da Saúde.  Infelizmente, já recebi outros relatos sobre “profissionais” praticando essa mesma aberração, inclusive bem perto de nossos narizes...  Creio que não adiantará muito apelar para a compaixão desses “profissionais”, mas tento: por favor, não sejam assassinos e assassinas de inocentes que confiam suas vidas a vocês. Apelo, também, para as autoridades: orientação, multa, demissão e prisão para esses infratores! Já!

Publicado na edição 584 da Revista Ria de 24/04/2021

 

196

Tudo muda sempre. Quando chega, parece que será um eterno ficar. Mas acaba indo. Às vezes, até volta, parece que vai ficar para sempre, mas acaba indo... A vida é um rio. As chuvas chegam. Vão embora, vem a estiagem. Mesmo que chegue a secar, o rio se mantém rio. E volta a chover... Nada permanece, mas nunca deixa de ser o que é. A água do rio pode virar bebida, mas continua a ser rio. Nos olhos, rio de lágrimas; de riso, às vezes. O riso dá lugar à tristeza, que acabará dando passo à alegria. Sempre muda tudo. Viver.

Publicado na edição 583 da Revista Ria de 17/04/2021

 

195

Se você ou um ente querido for preso, julgado e condenado arbitrariamente, com ilegalidades processuais, você vai querer recorrer dessa injustiça. A última esperança: o Supremo Tribunal Federal. Em qualquer país decente, o Poder Judiciário é forte e respeitado por todos, inclusive por presidentes e generais, ainda mais quando se trata de sua suprema corte. O Estado de
Direito tem defeitos, mas ainda não “inventaram” nada melhor: para mim, você, seu filho, todos. A outra opção é a ditadura. Ditaduras só são bonitas em ignorantes exibicionismos verbais. Na vida real, elas calam, excluem, matam. Não seja papagaio! Pesquise! Estude!
Pense!!!

Publicado na edição 579 da Revista Ria de 20/03/2021

 

194

Nada é tão fácil e, ao mesmo tempo, mais próximo do impossível do que viver “o” agora (não apenas “no” agora). O desejo da imortalidade nasce do apego, do egoísmo, da vaidade; gravita entre as promessas sonhadoras da religião, de uma Medicina tipo vitrine de luxo (e para bem poucos), de uma ficção “científica” classe “D”. Quem quer ser imortal, no fundo, quer ser Deus. A Eternidade, por sua vez, está ao alcance de toda e qualquer pessoa; nasce da compaixão por todos os seres vivos, pelas águas, pelo ar, pela terra. Só é preciso viver “o” agora. Já somos!
Publicado na edição 573 da Revista Ria de 06/02/2021

 

193

Saber que, de cada três brasileiros, pelo menos um ainda cultua uma “criatura” que, em vez de defender a Vida do nosso povo, pratica o desamparo de milhões, o desprezo pela dor dos que perderam entes queridos, a morte de todos nós, jogou-me num poço sem fundo de desilusão.
Saber que nossos “empresários”, coniventes com esse mito que mata, saem às ruas para
defender a volta a um normal que acabou, defendendo reaberturas que fecharão muitas  biografias, transformou o poço em Mar. Triste povinho, tristes empresariozinhos, triste mitinho... Nesta terra plana, vacinas transformam humanos em jacarés... Talvez ficassem mais inteligentes.

Publicado na edição 572 da Revista Ria de 31/01/2021

 

192

Nunca vivi um momento tão absurdamente absurdo. Não falo da Pandemia. Falo de um vírus pior, mais destrutivo. Trump saiu do governo, mas continua com seguidores, apoiadores,
discípulos: trata-se de verdadeira Legião... Pior: pelo mundo existem muitos genéricos de Trump, também com suas legiões. Trump e seus genéricos pelo mundo, acompanhados de seus ministros e companhia, com o absurdamente absurdo negacionismo, são responsáveis por milhares de mortes já ocorridas e ainda por ocorrer. Mais responsáveis que eles, porém, são todos os que votaram nesse Mal. Também os omissos, que deixamos passivamente a continuação desse festival diabólico, temos nas mãos o sangue das vítimas. Nunca vi tantos homens e mulheres mentirem sem nenhum pudor, sem nenhuma gota de vergonha na cara. Por que chegam tão baixo? Por dinheiro, vaidade? Como encaram seus filhos? Como conseguem olhar no espelho? Feitas essas tristes constatações, o que podemos fazer? Dizem que nunca mais poderemos voltar ao “antigo normal”. Concordo com isso, mas o dito “novo normal”, porém, não pode se resumir a uma perfumaria. Não basta usar máscara e álcool em gel. A raiz do hospício em que estamos reside nesse “antigo normal”, dominado pela ganância, pelo egoísmo, pela frieza, que geraram a pobreza e a riqueza extremas, que criaram um ressentimento pandêmico, que semearam a falta de esperança. Os apoiadores do Mal devem, sim, ser apontados como principais responsáveis pelas destruições produzidas. Não devemos, porém, lutar contra eles com as armas que eles usaram. Devemos, sim, lutar pela restauração, ou melhor: pela construção da Paz! Em vez de mentira, de violência, de preconceito, devemos lançar mão da Compaixão, buscando que eles ao menos confiram a verdade do que ouvem. Um “novo normal” não basta. Um novo rumo é pouco. Precisamos, na verdade, de um novo prumo. Já se foram bem mais do que cem palavras nesta edição; fiz isso em razão da importância e da emergência do assunto. Por isso, com Compaixão, convido você a visitar: www.novoprumo.org

Publicado na edição 571 da Revista Ria de 23/01/2021

 

191

De repente, erro de novo. Como sempre, arrependo-me, peço perdão. Como sempre, você me perdoa, de novo... Até quando errar, sempre e de novo, feito filme gasto de uma maratona (não) “vale a pena ver de novo”? Compromissos, promessas de mudança, reforma, retificação e, por fim, a repetição... Até quando? Até quando redigir um texto com algumas palavras bonitas, a título de pedido de perdão? Até quando aproveitar esse pedido para a coluna 100 Palavras? Erro de novo... A Vida, o Amor, a Esperança me inspiram: escrevo algumas palavras pedindo perdão. Mas desta vez não vão virar 100 Palavras. Prometo!

Publicado na edição 568 da Revista Ria de 02/01/2021

 

190

Parece filme... Você ama aquela pessoa, com quem convive há anos, seja cara-metade, filho, mãe, amigo. Acredita ser recíproco. Você sabe que, por ser humano, errou muito pelo caminho. Acredita, porém, que a convivência e o tempo mantiveram vivo aquele Amor. Por isso, nem se lembra direito desses erros. E chega um dia... Aquela pessoa joga na sua cara toda a dor sufocada. Desenterra cada erro seu. Você fica sem chão. Parece que entrou no filme errado. Suas convicções derretem. Isso dói demais. Feito mero personagem, você pode aceitar o grito da vida: “Corta!” Ou se levantar e dirigir: “Ação!”

Publicado na edição 567 da Revista Ria de 26/12/2020

 

189

Jó questionava, há muito tempo, o sucesso dos maus. Penso, porém, que a pergunta deveria ser: existem os bons? Nascemos da ânsia egoísta do espermatozóides e da sua recepção, sem julgamentos, pelo óvulo. Daí pode nascer o Bem? A maioria das pessoas, das mais humildes a presidentes de países, são totalmente egoístas. As demais, geralmente, não questionam a maldade daquelas. O fruto dessa união só pode ser o Mal. Castro Alves perguntava, diante do horror da escravidão: “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes”? Eu prefiro perguntar: seres humanos, ó seres humanos, por que nos calamos? Esse silêncio mata!

Publicado na edição 565 da Revista Ria de 12/12/2020

 

188

Foi chamado(a), muitas vezes, de chato(a)? Comece a se preocupar: pode ser verdade. Saia da chatice! Comece alargando os ângulos dos cantos de suas convicções. Multiplique os lados de suas respostas e as diagonais de suas perguntas. Não se assuste se seu velho e seguro (e morto?) quadrado estiver virando uma figura irregular. Faça com que se transforme numa esfera. Esfera, não bolha! Bolhas aprisionam, sufocam, degeneram o que prendem. Busque ser esfera expansiva, permeável a outras esferas, brilhante, cheia do perfume chamado Vida. Ela precisa girar, descortinando horizontes sem fim. Sinta todos e faça suas escolhas. Pulsar é preciso.

Publicado na edição 563 da Revista Ria de 28/11/2020

 

187

Em muitos domingos, no meio de churrascos, decidi, já meio alto, com um naco de picanha gorda entre os dentes e um cigarro à minha espera no cinzeiro, parar, no dia seguinte, de comer e beber em excesso e de fumar. A segunda-feira chegava; minhas decisões, não. Só uma vez alcancei todos esses e outros objetivos sadios, como meditar e praticar exercícios físicos. Foi logo depois da morte da minha Mãe, que doeu muito, demais. Como dizem, se não vai pelo Amor, vai pela dor. Busquemos, hoje, verdadeira e conscientemente, amarmos a nós mesmos.
O resto virá. E sem dor.

Publicado na edição 562 da Revista Ria de 21/11/2020

 

186

Somos nossas escolhas.
Escolher é tão importante, que deveria ser disciplina escolar prioritária em todos os níveis.
Ainda bebês, como sentimos dor quando enfiamos o dedo numa tomada, escolhemos não repetir isso.
Evoluímos, então: mesmo que nunca tenhamos sido atropelados, concluímos que deve doer muito. Resolvemos, assim, atravessar a rua cuidadosamente. Com o tempo, aprimoramos nossas técnicas.
Elegemos amigos ou nossa cara-metade não só pela emoção; analisamos suas obras.
Escolhas só pela aparência, simpatia ou paixões do momento podem levar a infernos; depois, a arrependimentos.
Escolher nossos representantes sem esses cuidados mínimos também leva a infernos. Urnas podem dar choque!

Publicado na edição 560 da Revista Ria de 07/11/2020

 

185

22 de outubro: completo 59 anos. Em todo aniversário, encaro meus sucessos, fracassos e frustrações.
Também me ocorre aquilo que dizem acontecer pouco antes da morte: toda minha vida passa num filme.
A última cena me entristeceu. Horas atrás, fui indelicado com o entregador de pizza.
Ele tocou a campainha, eu demorei, e ele acabou dando dois toques leves na buzina de sua motocicleta.
Odeio isso, confesso. Daí à indelicadeza, vai um oceano. No fundo, descontei nele minhas frustrações.
E falo tanto de Amor, Compaixão, Paz... Peço, sinceramente, perdão ao entregador.
Buscarei errar menos. Preciso, porém, continuar vivendo. Parabéns, Vida!

Publicado na edição 559 da Revista Ria de 31/10/2020

 

 

 

Publicado na edição 558 da Revista Ria de 24/10/2020

184

Trump não foi imposto por invasores marcianos, nem por canhões. O povo norte-americano o
elegeu, e isso pode repetir-se. Sempre imaginei que presidentes deveriam representar a
“cara” de seu povo. Se for verdade... Trump defende armas, guerra, preconceito, exclusão.
Despreza direitos humanos, proteção ambiental, diplomacia. Sua essência é, em síntese, o
Mal. Há vários outros presidentes com os mesmos atributos de Trump. Alguns ainda
acrescentam à lista a subserviência a este último. Se eles representam a “cara” de seu povo,
que “cara” feia... O voto precisa ser inteligente, nunca baseado em mentiras ou esmolas, mas
sim no passado das pessoas.

Publicado na edição 556 da Revista Ria de 10/10/2020

183

Impérios desabam. A juventude envelhece. A beleza murcha. O poder escorre. A fama vira anonimato.
A fortuna acaba. As pessoas viram lembranças, esquecimentos; quem?
O sonho da imortalidade vira pesadelo em forma de mofo; o mofo, areia; e chega um vento forte...
 Risos, choros, palmas e vaias viram ecos, ruídos, sussurros longínquos, silêncio.
Orgulho, vaidade, esperança e fé acabam escancarando suas verdadeiras faces:
pequenas e frágeis ilhas da fantasia, falsas zonas de conforto, terras do nunca, rotas de fuga das dúvidas inerentes ao real.
Nada fica, tudo passa; menos o brilho, a voz e o perfume da eternidade: o Amor.

Publicado na edição 529 da Revista Ria de 22/03/2020

 

182

Já disse que a vida é um prato “a la carte”. Se buscamos Paz, viveremos Paz; se buscamos
guerra, viveremos num campo de batalha. Paz e guerra, porém, quase sempre estão disfarçadas.
Uma doença pode trazer a semente de uma humildade que gerará Paz.
Um prêmio de loteria, por sua vez, pode gerar um inferno pessoal.
Além disso, quase nunca percebemos os pratos maravilhosos que estão disponíveis no cardápio da Vida:
aí pedimos e comemos mal. Seum Michelangelo aparecer e se oferecer para um trabalho grátis,
não peça para pintar o rodapé da sua sala. Olhe para o teto

Publicado na edição 525 da Revista Ria de 25/01/2020

 

181

Gostar, querer, amar são passos. Tocar, cheirar, abraçar: caminho.  Sentir o toque, o cheiro,
o aconchego: mapa. Dois seres dando passos no caminho, seguindo o mapa:
Luz. Não existe amor; só existe amar. Melhor: ser com. Melhor, ainda: serem dois rumos a um,
como a Luz que se divide no prisma, mas sempre é uma Luz. Juntos,
imprimem um boleto; juntos, secarem lágrimas; juntos, limparem os lábios cobertos de chantili;
juntos, sentirem desejo; juntos, discutirem se deixam ou não a filha viajar sozinha;
juntos, ouvirem o mar; juntos, sonharem; juntos, acordarem-se. Amar é  substantivo; juntos, verbo; viver a dois, dicionário.

Publicado na edição 519 da Revista Ria de 25/10/2019

 

180

Alguém grita: o circo está pegando fogo! O que você faz? É quase certo que sairá correndo.
Quase todas as pessoas fariam isso. É uma simples reação. E se, em vez dessa automática reação,
você fizesse uma reflexão? Vejo algum fogo? Sinto cheiro de fumaça?
Estou num circo? Depois de refletir, você poderia concluir que aquele grito não
passava de uma brincadeira de péssimo gosto. Nas redes sociais, as pessoas só reagem; não refletem.
Essas reações já destruíram, injustamente, reputações; até já levaram a mortes por linchamento.
Não saia por aí repercutindo notícias que nem sabe se são verdadeiras. Reflita!

Publicado na edição 478 da Revista Ria de 03/02/2018

 

179

Saí do banco financeiramente frustrado, o que tingiu de cinza o céu. 
Segui pela calçada, na esperança de encontrar algum amigo que pudesse ajudar-me. 
Uma voz feminina me chamou, então.  Teceu comentários bondosos sobre esta coluna,
contou sobre sua experiência no magistério, sobre suas esperanças. 
Mais de setenta anos declarados, uma aparência bem mais jovem do que isso, uma lucidez brilhante,
um olhar para o futuro como de criança que ainda vai descobrir tudo, a Professora Deise
derreteu minhas frustrações.  Deixei de procurar (muitas vezes “muy”)
amigos, e fui receber o Sol, que me olhava de um Céu lindíssimo.  Sorri...

Publicado na edição 474 da Revista Ria de 02/12/2017

 

178

Alguns momentos ficam gravados para sempre na memória. O aroma do café que mergulha na xícara,
numa manhã preguiçosa de domingo; o rápido roçar de mão amiga no nosso rosto;
a mirada de um cachorro pidão em petição de carinho. Talvez fiquem gravados por um único motivo:
estávamos presentes no presente maravilhoso que é o momento presente.
Quase nunca vivemos: somos vividos. É o boleto que venceu ontem, a preocupante reunião de amanhã,
aquele projeto sonhado que, há anos, nem chegou a ser semeado.
Assim, perdidos e desesperados, não percebemos, não recebemos, não gozamos esse presente sempre
presente: a Vida.

Publicado na edição 472 da Revista Ria de 01/11/2017

 

177
Quantos amigos verdadeiros você acha que tem? Mil, cem, cinco?
É fácil descobrir. Peça
dinheiro emprestado. Se seu “amigo” tiver condições de ajudar e não o fizer, risque-o da lista. O
pedido também pode ser indireto. Pergunte se ele conhece algum agiota, pois você está duro.
Se o “mui amigo” disser que não conhece nenhum, ou se informar o telefone de algum, sem se
oferecer para ajudar com o próprio bolso, risque da lista. Talvez você acabe contando seus
verdadeiros amigos com os dedos de uma só mão; com os narizes do rosto;
com as asas de um
burro…

Publicado na edição 469 da Revista Ria de 14/09/2017

 

176

A derrota é uma viagem solitária a pés descalços. Nesse caminho de queda íngreme, doloroso e
dolorido, coberto por pedras roliças e afiadas, somos apontados como sarnentos contagiosos.
Isso dói muito. O que dói mais, ainda, é o silêncio indiferente e gritante das pessoas que
pensávamos que poderiam se importar com a nossa dor. Esse silêncio estrala e ecoa fundo em
nosso mais profundo íntimo. Saída? Só a busca por túneis que nem como miragens
percebemos. A única coisa a fazer é trilhar o caminho, mesmo sentindo que dói, que vai doer
mais, que vai doer por  muito mais tempo...

Publicado na edição 468 da Revista Ria de 02/09/2017

 

175

Num verdadeiro relacionamento amoroso, não bastam amor, respeito, fidelidade, cumplicidade.  Somos naturalmente sexuados: temos desejos, temos ganas.  O contato físico é necessário.  Pode ser um simples toque no rosto do outro ser, mas é imprescindível.  Já na verdadeira amizade, não bastam afinidade, lealdade, respeito, apoio moral.  Se alguém cai em dificuldades financeiras, seu verdadeiro amigo, caso possa, deve prestar ajuda.  O dinheiro é o contato físico da amizade.  Um verdadeiro amigo vale ouro.  Às vezes, esse ouro precisa ser metálico.  Amigo só de papo, risadinha, tapinha nas costas, é só colega, conhecido, indiferente, irrelevante (além de pobremente miserável, é claro).

Publicado na edição 462 da Revista Ria de 03/06/2017

 

174

O atual governo federal transformou História em disciplina opcional.  Está fazendo os direitos dos trabalhadores regredirem quase 80 anos.  Está tirando o direito das pessoas viverem uma aposentadoria.  O povo bovino simplesmente repete, unanimemente, as mentiras reproduzidas pelos grandes meios de comunicação.  Essa quadrilha, liderada por um monstro chamado Mercado, está enterrando o conhecimento dos erros e acertos do passado.  Está transformando o presente numa escravidão.  Está matando um futuro minimamente digno.  Mas o povo não acha nada disso importante: nem chega a mugir.  Importante é um sítio em Atibaia; ou um apartamento no Guarujá.  A Casa-Grande está em festa.

Publicado na edição 461 da Revista Ria de 13/05/2017 

 

173

Na hora da morte, mesmo que estejamos ao lado de pessoas que nos amam, a viagem é pessoal, a sós.  É a solidão máxima.  O mesmo acontece nas nossas quedas.  Quando estamos doentes no corpo ou na alma, quando perdemos as pessoas que amamos, quando quebramos financeiramente, quando mergulhamos no vício, quando perdemos nosso bom nome ou nossa liberdade, em geral somos abandonados ou até apedrejados.  Mesmo, porém, que amigos nos cerquem, o levantar, o caminhar e o prosseguir são viagens pessoais, a sós.  Se ao nascermos dependemos totalmente dos outros, nessas lutas por reviver tudo depende completamente de nós.

Publicado na edição 460 da Revista Ria de 22/04/2017

 

172

Temos lei para barrar candidatos com ficha suja. Outra criminaliza a compra de votos. Um projeto quer proibir a reeleição. Não seria melhor o eleitor parar de votar em criminosos? Não seria melhor o eleitor parar de trocar seu voto por dinheiro ou outros favores? Não seria melhor o eleitor decidir se reelege ou não um político ou administrador? Aliás, se estes foram bons, por que proibir sua reeleição? Ou acreditamos na sabedoria do voto do povo, ou que se instale a ditadura! Lembre-se, porém: ditaduras abusam. E quando seus cascos pisotearem o seu jardim? Vai curtir nas redes sociais?

Publicado na edição 459 da Revista Ria de 08/04/2017

 

171

Dizem que todo ser humano, para ter uma existência plena, deve plantar uma árvore, deixar uma descendência e escrever um livro. Concordo, mas penso que também deve deixar um resumo da própria essência para os sobreviventes à sua morte: um epitáfio. Eis o meu:
Há três tipos de déspotas:
O que tiraniza o corpo: O Príncipe;
O que tiraniza a alma: O Papa;
E o que tiraniza o corpo e a alma: O Povo.
(Oscar Wilde)
Nunca fui príncipe.
Nunca fui Papa.
Nunca fui povo.
Nunca fui, aliás.
Fluí.
Nesse fluir, busquei deixar rastros de um anelo que
(Odair Bruzos)

Publicado na edição 458 da Revista Ria de 25/03/2017

 

170

Há momentos na vida em que parece que tudo vai desmoronar.  Geralmente, nessas ocasiões, travamos.  Depois, ou afundamos no desespero, ou fugimos para alguma esperança.  Nada disso, porém, resolve o problema.  A única solução é: reconhecer a situação; agir no que for possível; aceitar os terremotos inevitáveis.  Isso é brilhantemente resumido na “Oração da Serenidade”, sempre repetida em salas de grupos de ajuda mútua, como AA e NA: ”Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisa que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para conhecer a diferença entre elas.  Não há outra saída verdadeira!

Publicado na edição 457 da Revista Ria de 11/03/2017

 

169

A busca pela imortalidade é uma linha horizontal: nasce numa cidade fantasma chamada passado e tem como destino um nevoeiro chamado futuro. É tão frenética essa busca, que mal passamos pelo Presente; nem o percebemos. Já a busca pela Eternidade é uma linha vertical: começa em nós e vai se aprofundando sempre, mais e mais, em direção à total percepção do Presente. Assim começamos a sentir o que nos rodeia. Assim vamos aprendendo a sentir o perfume de um sorriso, a música de um beijo, a maciez de um conselho, a Luz de uma rosa, a doçura de um incenso.

Publicado na edição 456 da Revista Ria de 25 /02/2017

 

168

Nem cem trilhões de palavras seriam suficientes para acalentar os corações que sofrem, corações que perderam parentes e amigos na tragédia ocorrida dias atrás, quando um ônibus tombou na estrada. Nesses momentos em que o chão some, o céu se apaga, e o horizonte turva, quem sofre não enxerga sequer gota de esperança: tudo é dor. Não tenho palavras. Mas tenho ouvidos. Se você está sofrendo e quer desabafar com uma pessoa “de fora”, xingar, chorar ou até conversar, estou à sua disposição. Mande um email para odair@100palavras.com.br. Se quiser, informe seu telefone, e eu ligo para você. Vem, Luz!

Publicado na edição 440 da Revista Ria de 18 /06/2016

 

167

"Presente de Jesus". "Empresa administrada por Deus". Com certeza, as pessoas que fazem essas inscrições em automóveis e fachadas estão com um bem intencionado desejo de louvor.
Essas frases são perigosas, porém. Podem reduzir a Divindade sem começo e nem fim à nossa pequenez. É como se Deus fosse visto como um gerente de banco, um investidor, uma loteria. Deus deve ser muito mais do que isso. E nós também deveríamos estar disponíveis
para muito mais do que um novo carrinho ou uma empresinha lucrativa. O Divino é fonte sem fim, mas nós preferimos afogar­nos em poços apertados e seco.

Publicado na edição 439 da Revista Ria de 04 /06/2016

 

166

Há pessoas que, para "amarem" outra pessoa, exigem que esta pare com isto ou faça aquilo. Esse "amor" condicional pode ser tudo, menos Amor. Mas há coisa pior. Quem, por exemplo, cuida de um pai idoso porque foi por ele cuidado, ou por prever que, no futuro, precisará ser cuidado por seus filhos (e quer dar o exemplo), "ama" por compensação. Se o "amor" com condição não é Amor, o "amor" por compensação é só comércio. Pior, ainda: um comércio muito mesquinho. Amor só é Amor quando é de graça. Quem Ama de verdade, simplesmente Ama, nada esperando, nada negociando

Publicado na edição 413 da Revista Ria de 16 /04/2015

 

165

Furamos filas. Trafegamos pelo acostamento. Caminhamos nas ciclovias. Andamos de bicicleta nas calçadas, na contramão, ignorando faróis fechados. Guardamos o troco recebido a mais. Somos invejosos: alegramo-nos com nossas vitórias, mas gozamos com a derrota alheia. Trocamos nosso voto por dinheiro, telhas, promessas de emprego. Escondemos os defeitos do carro que estamos vendendo. Reclamamos na justiça trabalhista quantias que sabemos não merecer. Sonegamos direitos que nossos funcionários merecem. Transformamos seguro desemprego em modo de vida. Somos, enfim, seres ética e moralmente rastejantes. Mesmo assim, queremos políticos honestos, autoridades corretas, um país nobre como um condor. Somos hipócritas! Que tristeza...

Publicado na edição 404 da Revista Ria de 27 /12/2014

 

164

Viver é deixar rastros no mundo e nas mentes e corações das pessoas. Algumas delas sentem tanto medo da vida, que seus rastros são quase indeléveis. Outras são tão egoístas, pensam tanto que são o centro do universo, que seus rastros são sulcos profundos, mais feridas que rastros. Sábio, mesmo, é aquele que não foge da Vida, mas sempre com a consciência de que é mais uma personagem nesse palco de pura maravilha. Essas pessoas constroem pelo mundo, gravam-se nas mentes, aquecem corações. São poderosas e leves. Seus rastros são luzes, não sulcos. São luzes que só buscam iluminar.

Publicado na edição 401 da Revista Ria de 15/11/2014

 

163

Por décadas bebeu, fumou, exagerou. Num certo dia, levou um choque de consciência: estava depredando seu templo (seu corpo), seu altar (sua família), sua Luz (seu Ser). Parou de beber, de fumar e de exagerar. Surgiu, então, uma culpa profunda e afiada, culpa por saber que sempre tivera a consciência de que depredava seu templo, seu altar, sua Luz; e, mesmo assim,por décadas, continuara a beber, fumar, exagerar. Em outro dia, percebeu que a culpa estava se transformando em novo vício. Nesse dia não bebeu, não fumou, não exagerou, não se culpou. Apenas viveu seu templo, seu altar, seu Ser.

Publicado na edição 400 da Revista Ria de 25 /10/2014

 

162

Dizem que a Vida é um caminhar sobre o fio de uma navalha. Caminhando sobre esse fio duro, gelado, cortante, escolhemos e agimos. Nosso caminhar pode nos conduzir para a Luz ou para a escuridão. Muitos são os pobres de espírito: caminham sempre sobre um fio de sombra. Muitos, também, criam fugas: imaginam caminhar sobre um fio de luz. Esta é a Verdade: o fio é, mesmo, duro, gelado e cortante. Como é duro, criamos fibra; como é frio, acabamos entendendo a importância do calor em nossos corações; como é cortante, queremos aprender a voar. Então se faz a Luz

Publicado na edição 398 da Revista Ria de 27 /09/2014

 

161

Às vezes eu sinto um desconforto sem explicação. É uma sensação de tragédia, de falta de sentido, de desmoronamento de tudo. Já tentei várias maneiras de sair desses buracos: religião, dormir, diversão, álcool, comida. Acontece que o fervor religioso passava; a insônia tomava conta da cama; a brincadeira terminava; a ressaca substituía o sonho; o estômago gritava “chega”. Aí eu voltava para o mesmo buraco, já mais fundo, depois das escavadas que eu dera com a pá da fuga da noite anterior. Então, eu reconheci o buraco, suas causas, sem querer fugir. Comecei a ver chão, céu, Luz. Eu Era!

Publicado na edição 396 da Revista Ria de 23 /08/2014

 

160

Para um poeta, o perfume de uma flor pode representar o aconchego da pessoa amada. Para o botânico, será um conjunto de processos com a finalidade de atrair pássaros, abelhas e borboletas, tudo em busca da reprodução. Para o químico, será a idéia de um novo perfume industrializado. Para o florista, será uma boa mercadoria em sua vitrine. Já a rosa simplesmente se abre em perfume. Ela não calcula nada, ela não projeta nada: simplesmente se doa em perfume. Como seria bom, se conseguíssemos encarar a Vida como a rosa encara sua fragrância. Como seria maravilhoso, se conseguíssemos simplesmente viver.

Publicado na edição 387da Revista Ria de 19/04/2014

 

159

Uma batata, sob a pressão de um espremedor, explode em fios de amido. A Vida também é assim: sob a pressão do Amor de Deus, da Luz, do Eterno, não tem outra escolha, a não ser explodir como pedra, como rosa, como borboleta, como homem. O Amor transforma a pedra em abrigo, a rosa em perfume, a borboleta em balé de cores, o homem em bom pai. O fluir da Vida é sempre bom: a cadeia alimentar, o nascimento, a velhice, a morte, tudo é bom. O mal surge quando o homem, por ignorância, opõe-se ao fluir da Vida.

Publicado na edição 376 da Revista Ria de 16/11/2013

 

158

Consta que Jesus foi à cruz pelos erros da humanidade, não pelos seus. Consta, ainda, que, no desespero da agonia, citou um dos salmos, em razão do abandono total que estava vivendo. Por outro lado, muitos de nós, diante das dores causadas por nossas escolhas erradas, também clamamos: meu Deus, por que me abandonaste? Alguns poucos, no meio do sofrimento causado pelas próprias ações, clamam, já com um nível superior de consciência: meu Deus, por que me abandonei? Raríssimos são os que, no lamaçal auto-gerado, vivem a plena consciência, orando: meu Deus, eu sou aqui, agora; errei, mas Sou.

Publicado na edição 375 da Revista Ria de 02/11/2013

 

157

Alguns nunca perdoam; com corações de esponja seca, absorvem toda a ofensa, cristalizando-a feito pedra. Alguns perdoam na hora. Isso parece bom, mas pode significar um coração tão orgulhoso, que vê o ofensor como alguém que nem merece seu rancor. Alguns se esquecem da ofensa; jogam esta fora. O risco deste tipo é que a pessoa que perdoa sempre jogará na cara do ofensor a nobreza do perdão concedido. Por fim, alguns não se lembram da ofensa: perdoam com tal profundidade e desapego, que não conseguem lembrar-se de que perdoaram algo de alguém. São raríssimos pedaços de Céu na Terra

Publicado na edição 374 da Revista Ria de 19/10/2013

 

156

Você acredita em anjos? Não, não falo daquelas figuras idealizadas em pinturas ou moldadas em esculturas dos mais diversos tamanhos. Também não falo de anjos que só foram vistos por algumas personagens reais ou imaginárias. Falo de anjos de verdade, mesmo. Pois eu posso provar que estes anjos existem. Na próxima vez em que você perceber que alguém precisa de ajuda, ajude! Se possível, anonimamente, mas ajude. Mesmo que a ajuda seja apenas um conselho, mesmo que seja apenas um par de orelhas para escutar, ajude. Faça isso sempre. Olhe-se, então, no espelho. Eu não disse que os anjos existiam?

Publicado na edição 373 da Revista Ria de 05/10/2013

 

155

Segundo um antigo ditado, todo ser humano, para ter uma vida completa, deveria ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Esse é um conselho muito útil. Tenho um outro, destinado à educação dos filhos: se eles aprenderem uma língua estrangeira, a nadar e a tocar um instrumento, caminharão com mais facilidade pelos caminhos da Vida. Além disso, depois de formados, seria muito bom que aprendessem uma segunda profissão. É claro, porém, que plantar uma árvore ou saber tocar oboé não faz de um canalha um verdadeiro homem. A verdadeira ferramenta para se construir futuros se chama “caráter”

Publicado na edição 371 da Revista Ria de 07/09/2013

 

154

A Vida se parece com luzes piscando. Surge uma alegria, ela brilha, transborda, esfria, desaparece. Surge, então, uma tristeza; ela cresce, envolve tudo, até que vai minguando, até que se apaga. Se nos fixarmos em cada alegria, se focalizarmos cada tristeza, sempre nos sentiremos como crianças levando nas orelhas tapões dados pelo tempo, ora nos acordando para o prazer, ora nos chamando para a dor. O nome disso é inferno, um permanente sentido de que não há saída: a felicidade sempre termina, e a tristeza sempre vem. Se, porém, olharmos para o conjunto das fugazes luzes, sem julgar, descobriremos Deus.

Publicado na edição 370 da Revista Ria de 24/08/2013

 

153

Muitos de nós cultivamos vícios por anos ou décadas, chafurdando no lamaçal ou no fundo do poço das mais diversas compulsões. Para alguns, num determinado dia, surge, seja por este ou por aquele motivo, seja por nenhum motivo aparente, uma vontade de mudar de vida. Essa vontade de mudar é, às vezes, tão intensa, que mais parece uma nova compulsão. Fazemos, então, uma mudança radical, total. O resultado, quase sempre, é o fracasso, seja imediato, seja a médio ou a longo prazo. Nesses momentos, talvez seja útil termos a humildade de dar um passo, mesmo que pequeno, a cada dia.

Publicado na edição 369 da Revista Ria de 10/08/2013

 

152

Reclamamos do frio. Reclamamos do calor. Reclamamos da nossa fome. Reclamamos por ter comido demais. Reclamamos do estresse. Reclamamos do tédio. Festejamos o nascimento, mas abominamos a morte, como se o bebê recém-chegado já não trouxesse consigo o bilhete de sua partida. Adoraríamos que a vida fosse um quadro estaticamente belo. Essa beleza, porém, não passaria de morte. A vida só existe como pulso, como fluir, como dinâmica. Raríssimos homens, como foi Francisco de Assis, terão a fortaleza necessária para perceber a Beleza até na dor. Mas todos podemos ao menos vislumbrar a Beleza do calor, do frio. Basta querer.

Publicado na edição 368 da Revista Ria de 27/07/2013

 

151

Às vezes surge do nada um desassossego. Muitas vezes sem nenhum motivo aparente, nasce um desconforto vital, como se tudo estivesse errado, como se os acertos do passado nada significassem, como se as dúvidas do futuro perdessem qualquer gravidade. É como se aumentassem de tamanho aquelas interrogações de sempre. Quem sou eu? Por que estou aqui? Existe algo depois da morte? Freud chamava isso de mal-estar da civilização. O povo dá outros nomes, do erudito enfado ao rude, porém inteligível, saco cheio. Nesses momentos, ou esperamos a dor passar, ou mergulhamos fundo em nós mesmos: escolha difícil, mas divisora de águas.

Publicado na edição 367 da Revista Ria de 13/07/2013

 

150

Em maio, de férias, seis da tarde. Ocupei uma das mesas da Riviera Pontal, nova padaria do Pontal da Cruz. Os veículos com sentido a Caraguatatuba não podem virar naquela rua: uma placa enorme indica isso; o senso de segurança, também. A menos de cem metros existe um retorno. Mesmo assim, um médico fez a conversão, impedindo o prosseguimento dos que estavam certos, os quais protestaram com buzinas. O médico fez um gesto não muito gentil e fez a conversão proibida. Muitos outros fizeram o mesmo: carrões, populares, velhinhos. Não respeitam uma placa, mas querem que os políticos sejam anjos...

Publicado na edição 366 da Revista Ria de 29/06/2013

 

149

Várias tradições de busca espiritual indicavam uma meditação inusitada; inusitada, mas muito eficiente como auxiliar na quebra do monstro, do veneno, do ladrão, do sequestrador chamado ego ou falso eu, que nada mais é do que aquilo que imaginamos que somos. A meditação consiste em relaxar, apenas observando a respiração e a sucessão frenética dos pensamentos, sem nenhum julgamento, só observando o que está acontecendo. Depois de algum tempo, imaginar nossa morte, nosso velório, nosso enterro...um mês depois...um ano depois...cinco anos depois...dez anos depois. Em cada um desses momentos, perguntar: “quem sou eu?”; “o que é meu?”. Isso poderá doer...

Publicado na edição 362 da Revista Ria de 04/05/2013

 

148

Pense em algo que você gostaria de possuir. Agora, pense em algo que você gostaria ainda mais de possuir. Ainda mais. Mais. Muito mais. Percebe? O desejo não tem limite, nunca fica saciado. Agora, pense em algo de que você gosta muito. Digamos que seja seu aparelho de televisão novo. Imagine que, por algum motivo, você precisasse se livrar dele. Digamos que você tivesse a chance de escolher outra coisa para jogar fora. Provavelmente você iria escolhendo objetos de valor cada vez menor. Talvez acabasse livrando-se apenas de uma banana podre. Viu como é difícil o desapego? Somos meros espermatozoides...

Publicado na edição 361 da Revista Ria de 20/04/2013

 

147

Podemos trabalhar vinte, trinta, quarenta anos, sempre com dedicação e interesse. Uma única falta, porém, poderá jogar por terra todo esse passado. Podemos respeitar e amar, por anos e anos, nosso cônjuge, nossos amigos; bastará um escorregão para transformar tudo isso em ódio e desprezo. Os resultados do que fazemos na vida é fugaz, impermanente, condicional, frágil, sem garantia nenhuma de continuidade. Portanto, se agirmos apenas pelos resultados, construiremos pura loucura. Se, porém, agirmos simplesmente para espalhar pelo mundo o perfume de nossa ação, sem preocupação com o resultado final, viveremos, a cada instante, a Paz sem pronomes ou adjetivos.

Publicado na edição 360 da Revista Ria de 06/04/2013

 

146

Muitas pessoas, geralmente com a melhor das intenções, criam normas, ditam regras para mudar seus cônjuges. Esquecem-se de que a verdadeira mudança só acontece na caminhada de cada um, com quedas, reerguimentos, desmoronamentos, renascimentos. Ninguém muda em cumprimento à ordem de outra pessoa, ainda que esta dê ordens motivada pelo que pensa ser amor. É como colocar na gaiola um pássaro que, na floresta, cantava lindamente. A ave pode ficar na gaiola; seu canto, porém, ficará para sempre ecoando silenciosamente na floresta. Como diz a Bíblia, o Amor precisa ser dom total. O melhor sinônimo de Amor é tolerância. Fluir...

Publicado na edição 359 da Revista Ria de 23/03/2013

 

145

Toda matéria é constituída principalmente de vazio, de nada, com partículas sempre girando em velocidades alucinantes. Além disso, cada partícula, em frações inimagináveis de segundo, desaparece, surgindo, logo depois, nova partícula. As estrelas, os mares, nós não passamos de vazios vibrando e piscando. Tudo morre e renasce a todo instante. Mesmo com toda essa imensa impermanência, ousamos imaginar que somos muito importantes, que o tempo não existe para nós, que somos e seremos sempre a mesma pessoa. Nossa mente, porém, é um vazio imenso, no meio do qual os pensamentos vibram, desaparecem, surgem. Somos pura mutação. Somos nada. Somos tudo.

Publicado na edição 358 da Revista Ria de 09/03/2013

 

144

Pouquíssimas pessoas terão, depois da morte, um epitáfio que ultrapasse o simples registro de funções comuns a todos os animais: “respirou, comeu, bebeu, excretou, cresceu, reproduziu-se, definhou, morreu”. Pouquíssimas pessoas poderão dizer, à beira da última respiração, que progrediram algo em relação ao espermatozóide que já foram, pois só buscaram alimentar seus egos. O grande epitáfio não precisaria ser recheado de feitos materialmente maravilhosos. Poderia trazer aquelas mesmas funções comuns a todos os animais. Só precisaria ter este adendo: “teve consciência de que respirava, comia, bebia, de que não era só seu ego”. Esse adendo pode ser criado exatamente agora!

Publicado na edição 357 da Revista Ria de 23/02/2013

 

143

Não é nada fácil abandonar vícios, principalmente quando estes são nossos companheiros por anos e anos. Essa dificuldade costuma ser tão grande, que, em muitos casos, acaba surgindo um novo vício: o de querer abandonar o vício. Um fumante inveterado tenta periodicamente parar de fumar. Tenta e fracassa. Se esse processo continuar a se repetir, além do sofrimento causado pelo tabagismo, surgirá o sofrimento causado pelo fracasso diante das tentativas sem sucesso de abandonar o cigarro. O grande erro está em olharmos para os vícios como inimigos, quando, na verdade, nós os amamos. Esse reconhecimento é o primeiro passo.

Publicado na edição 356 da Revista Ria de 09/02/2013

 

142

Muitos mestres na busca espiritual definiram a fonte de todos os males: o Tempo. Concordo com isso, mas entendo que o Tempo, enquanto gerador dos males, tem outro nome: apego. Em vez de gozarmos, como borboletas sugando o néctar das flores, a reunião com amigos, antevemos o término desse encontro, nascendo uma semente de desconforto. Em vez de nos soltarmos, feito gota de chuva caindo no mar, no abraço com nossa cara metade, ficamos preocupados em congelar aquele instante. O contrário de apego é desapego: aceitar gozo, riso e aconchego; aceitar dor, choro, solidão. O contrário de Tempo é Eternidade.

Publicado na edição 355 da Revista Ria de 26/01/2013

 

141

Viver a dois é mais do que escrever o futuro a quatro mãos. Às vezes, duas dessas mãos estão trêmulas, precisando da firmeza das outras duas; e vice-versa. Viver a dois é mais do que ler a dor no sorriso, o sim no não, o pedido de socorro na boca fechada. Às vezes, para se ouvir o outro, é preciso traduzir entrelinhas, tirar tampões do coração, sentir novas cores no silêncio. Viver a dois é mais do que compor, tocar e cantar uma música nova a cada dia. Às vezes, é preciso rir, quando o outro esquece a letra. Viveradois.

Publicado na edição 351 da Revista Ria de 24/11/2012

 

140

Quando o medo me cerca, quando a vontade de desistir de tudo se aproxima, quando parece que nunca surgirá um rastro de luz no fim do túnel, quando estou sem ânimo para nada, é claro que, como todo ser humano, entro em pânico. É um pânico paralisante, que impede até mesmo pensar em como poderia ser o primeiro passo. É a morte de alguém cujo coração ainda bate, cujos pulmões ainda se enchem e se esvaziam de ar. Mas é a morte. Nessas horas de desespero, só existe uma saída, fazendo uso da última gota de energia: gritar “Vai, Odair!”

Publicado na edição 350 da Revista Ria de 10/11/2012

 

139

Meu corpo e o sopro que o anima não passam de um pincel. Quem segura o pincel sou eu, mas com uma mão de Luz a guiar a minha. Como num curso de caligrafia, essa mão divina cada vez mais deixa a minha mão guiar o pincel por conta própria. Com o pincel, traço pontos, linhas, cores, sabendo que na tela surgirá uma obra-prima, sem, porém, sequer imaginar como ficará essa obra, quando da última pincelada. Precisamos tratar bem do pincel, conservá-lo; precisamos cada vez mais dominá-lo com perfeição. Mas precisamos saber que o mais importante é o que pintamos.

Publicado na edição 349 da Revista Ria de 27/10/2012

 

138

Tudo pode ser ou não ser. Tudo pode estar certo ou errado. Tudo pode ser prematuro ou ter passado da hora. Um casal que viveu alegre por anos, de repente, descobre que a traição, embora camuflada, sempre estivera presente. Aquela alegria existiu? Matar um bebê é horroroso? E se o bebê fosse Hitler? Fazer-se adulto na adolescência é bom? Será que os erros que deixaram de ser cometidos não vão gerar um velho com saudade do que não fez? Às vezes nos preocupamos com os bancos do ônibus, sua limpeza, sua temperatura. E nem percebemos que estamos no ônibus errado...

Publicado na edição 348 da Revista Ria de 13/10/2012

 

137

Às vezes, olhando para os rastros do passado e para os vislumbres do futuro, eu fico pensativo... Ah! Se eu pudesse voltar ao passado, fazendo o que deveria ter feito e não fiz. Ah! Se eu pudesse voltar ao passado e deixar de fazer o que não deveria ter feito, mas fiz. Ah! Se eu pudesse voltar ao passado e consertar os erros que cometi. Ah! Se eu pudesse ver claramente o futuro, descobrindo como fazer o certo, agora, para não gerar erros, amanhã. Acabo percebendo, então, como é inútil ficar repetindo “ah! se eu pudesse”. Mesmo assim, às vezes...

Publicado na edição 347 da Revista Ria de 29/09/2012

 

136

Sonhou tanto com seu futuro, que pouco vivia no presente, apenas atuava na maravilhosa biografia que, imaginava, ainda iriam escrever sobre sua vida. Por conta disso, se o seu presente era artificial, vazio, ensaiado, seu passado nem mesmo isso era. Assim se passaram horas, dias, anos. Passaram-se, também, chances, portas, convites. Mais, ainda: passaram-se ouvidos, bocas, braços e corações abertos pelas esquinas da existência. Encarnava de verdade aquela resposta que damos, quando nos perguntam como estamos: “vou indo”. Realmente, nunca foi, esteve, chegou; apenas ia, sem saber de onde, para onde, para quê... Viver é fazer escolhas
a cada segundo.

Publicado na edição 346 da Revista Ria de 15/09/2012

 

135

Diante da propaganda eleitoral que invade a televisão, o rádio, as ruas; diante das falas, das promessas, das poses de santos de muitos candidatos, fico muito curioso. Será que eles acreditam no que dizem? Pior: será que acreditam que nós acreditamos neles? Pior, ainda: será que nós acreditamos no que eles dizem? Fico imaginando se esses candidatos teriam coragem de dizer para suas mães, seus pais, seus filhos, o que dizem para nós. Sim: será que eles, olhando fundo nos olhos de seus entes queridos, teriam a coragem de falar o que falam para nós? Era uma vez, num reino...

Publicado na edição 345 da Revista Ria de 01/09/2012

 

134

Sábado, oito da madrugada: toca o telefone. Era a gravação de um candidato pedindo voto. Desligo e, com raiva, começo meu dia. No caminho para o Centro, passo por carros com propaganda eleitoral: uns na calçada, outros em manobras absurdas, alguns simplesmente empacando o trânsito. Na volta, entro no meu carro, coloco o cinto de segurança e percebo santinhos no para-brisa. Desço, retiro os papéis, volto para casa. Na caixa de correio, mais de trinta santinhos. Será que esses candidatos pensam que tais “estratégias” vão influenciar meu voto? Pensando melhor, vão, sim: vão ajudar-me a decidir em quem não votar.

Publicado na edição 344 da Revista Ria de 18/08/2012

 

133

Podemos buscar a Luz caminhando para fora, em livros, tradições, mestres. Podemos ir ao Tibete, à Índia, a Jerusalém. Podemos curar as feridas dos outros, doar nossa vida, assumir todas as dores. No final dessa jornada, se não cairmos no confortável comodismo de pensarmos que já encontramos a Luz, veremos, na chegada, nossas costas. Podemos, também, trilhar nossa busca para dentro, com meditação, com a consciente destruição da percepção que temos do que agora tomamos por real. No final, se não virarmos eremitas, avistaremos nossas costas. O grande desafio é conhecer a face que está do outro lado dessas costas.

Publicado na edição 343 da Revista Ria de 04/08/2012

 

132

Os homossexuais fogem da normalidade, do padrão. Se assim não fosse, a civilização acabaria em poucas décadas, pela falta de reprodução. Por outro lado, imagino como dói alguém negar o que sente que é; como deve ser uma tortura contrariar seu corpo e sua mente, para os quais a atração pelo mesmo sexo é a normalidade, é o padrão. O que não entendo, mesmo, é a discriminação contra eles; é o escândalo armado, por exemplo, sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O grande escândalo deveria ser a eventual falta de amor entre os casais, não o sexo deles.

Publicado na edição 340 da Revista Ria de 23/06/2012

 

131

Respeito, admiro, invejo o peregrino que trilha seu próprio Caminho de busca espiritual, desde que não se ampare nos outros, em livros, ritos, tradições, doutrinas, opiniões, muito menos em ambições de resultados; desde que seu único amparo seja o cajado invisível do desapego. Já não posso dizer isso dos fanáticos, que pensam que já encontraram, embora nunca tenham procurado. Simplesmente imitaram seus pais, vizinhos, líderes. Nada mais fizeram do que abraçar um livro, uma doutrina, um ritual. O peregrino busca o criador da grandiosidade que sente em seu coração. O fanático já criou um deus à altura da sua pequenez.

Publicado na edição 337 da Revista Ria de 12/05/2012

 

130

A quase totalidade das pessoas não se preocupa em buscar o sentido da Vida. Para elas, saber o que estão fazendo aqui é irrelevante, perda de tempo, pura bobagem. Muitas pessoas vão a igrejas, mas isso não quer dizer que busquem verdadeiramente algo. A maioria está mais preocupada em seguir um livro, em não comer carne em determinado dia, em seguir cegamente rituais, em repetir como máquinas palavras que chamam de oração. Nem Buda, nem Jesus conseguiram amolecer os nossos corações; não conseguiram plantar a sede pelo Eterno. Essas são as más notícias. A boa é esta: podemos começar agora!

Publicado na edição 335 da Revista Ria de 14/04/2012

 

129

O triste não é a cara de pau com que os donos de supermercados impuseram a extinção das sacolas plásticas, extinção, por ora, apenas adiada. O triste não é o fato desses mesmos donos embolsarem o que investiam nas sacolas. O triste não é o dinheiro que vamos passar a gastar com sacos para as lixeiras da cozinha, para as do banheiro, ou para recolher dejetos deixados por animais em seus passeios, necessidades anteriormente supridas pelas sacolas plásticas. O triste, mesmo, é perceber que muitos consumidores acreditam que os donos de supermercados estão preocupados com o meio ambiente. Somos bovinos...

Publicado na edição 334 da Revista Ria de 31/03/2012

 

128

Pode acreditar: as duas cenas a seguir aconteceram no mesmo dia. Vi a caixa de um supermercado pedir para que um senhor de aparentes sessenta anos comprovasse, com documento, que era maior de idade. Como ele não estava com nenhum documento, foi impedido de levar suas cervejas para casa. Mais tarde, na frente da minha televisão, em pleno horário nobre, vi um bombardeio de propagandas de cervejas, com apelos sexuais, juvenis e até infantis. Diante desse quadro surreal, com fortes doses de intolerância e de hipocrisia, tive esta impressão: ou eu estava bêbado, ou a nossa sociedade estava totalmente embriagada.

Publicado na edição 332 da Revista Ria de 03/03/2012

 

127

Muitos de nós somos alcoólatras, viciados na pior droga química que existe: o álcool. Outros são viciados em cocaína, em heroína, em maconha, em outras drogas químicas. Muitos somos dependentes do tabaco; outros, do café. Grande parte da humanidade é viciada em jogos de azar, em apostas sobre qualquer coisa. Uns fogem para o trabalho; outros, para as religiões. São muitos os que abusam do sexo, da comida, até do exercício físico. O vício não passa de uma fuga de si mesmo. Todo ser humano tem sua rota de fuga. A pior droga de todas é a negação dessa verdade.

Publicado na edição 331 da Revista Ria de 18/02/2012

 

126

Não é fácil dar o segundo passo, quando o primeiro já foi um sacrifício. Não é fácil dar respostas aos que nos questionam, quando temos tantas dúvidas. Não é fácil crer em Deus, quando, nos momentos de maior angústia, parece que ele não nos ouve. Não é fácil esquecer mágoas, quando as feridas ainda estão sangrando. Não é fácil dar ânimo aos outros, quando nossas próprias pernas vacilam. Não, nada disso é fácil. Se, porém, acrescentarmos um ingrediente, tudo passa a ser uma brincadeira, uma brisa suave, um amanhecer. Com Amor, Amor verdadeiro, tudo fica fácil. Mas só com Amor.

Publicado na edição 330 da Revista Ria de 04/02/2012

 

125

E se, um dia, ou pode ser uma noite, você perceber, sentir, melhor dizendo, constatar que não existe nehuma esperança? E se você perceber que, realmente, não existe nenhuma saída? Nenhuma...nenhuma. Se, mesmo assim, você conseguir permanecer vivo, o primeiro passo terá sido dado. Essa é a verdade sobre a Vida, sobre a busca por um sentido. Quando você estiver em um buraco sem fundo, quando não aparecer ninguém para ajudá-lo de verdade, quando você perceber que todos estão torcendo pelo seu fracasso, pare! Respire! Você perceberá, então, que no meio dessa falta tão grande de solidariedade, Você ainda é!

Publicado na edição 329 da Revista Ria de 21/01/2012

 

124

Paulo disse que vemos a vida como em um espelho. Sabemos que a imagem que captamos a partir de um espelho é invertida. Em outras palavras, portanto, nossa percepção do sentido da Vida é o inverso do que deveria ser. Não nascemos para estudar, trabalhar, criar e manter família; nem para alcançar riqueza, fama, poder. Nascemos, na verdade, para conseguirmos ultrapassar o espelho. Nesse processo, estudar, trabalhar, compartilhar são ferramentas importantes, mas apenas ferramentas; riqueza, fama e poder, desde que de origem pura, podem até ser consequências, mas não objetivos. Neste Natal, precisamos dar a nossa resposta: por que nascemos?

Publicado na edição 327 da Revista Ria de 24/12/2011

123

Alterando frase famosa, a História sempre se repete como farsa. Há quinhentos anos, os nativos deste Brasil se deslumbravam com espelhinhos. Por conta desses badulaques, muitos entregaram suas terras, sua Cultura, suas almas. Hoje, quase todos buscam, ansiosa e desesperadamente, o celular mais avançado, o tablet com mais recursos, o carro mais luxuoso. É tão profunda essa busca, que suas almas migram para os objetos almejados. Quando percebem que esses espelhinhos modernos não respondem aos seus anseios profundos, constatam um infinito vazio interior. Em vez, porém, de retomarem suas almas, procuram novos espelhinhos. O vazio só aumenta. É uma tragédia.

Publicado na edição 326 da Revista Ria de 10/12/2011

 

122

A resposta diante da hipotética oportunidade de um último pedido pode definir o avanço na busca espiritual. Pedidos primordialmente egoístas e sensoriais, como uma noite de prazeres extremos, um banquete com iguarias e bebidas maravilhosas, um pote de ouro, indicariam uma pessoa que nem chegou ao ponto de partida. Pedidos de prosperidade para os entes queridos já indicariam um pequeno avanço no Caminho. Pedir a Paz para todos representaria quase a metade do trajeto. O caminhante avançado e seguro, porém, não pediria nada disso. Ele simplesmente daria uma risada e perguntaria: “como posso pedir algo, se eu já sou tudo”?

Publicado na edição 325 da Revista Ria de 26/11/2011

 

121

Ninguém é mais forte do que a pessoa que vive plenamente o agora. Essa pessoa olha para o passado como se  este fosse um professor, não um acusador, nem um paraíso perdido. Olha para o futuro como se este fosse um guia turístico a sugerir roteiros, não como uma odalisca sedutora, nem como um monstro sempre à espreita. Assim, o seu passado não gera nem culpa, nem saudade; o seu futuro não cria temor, nem desejo. Tudo isso abre caminho para um mergulho no momento presente, para uma presença cada vez mais profunda no agora. isso é a Eternidade.

Publicado na edição 321 da Revista Ria de 12/11/2011

 

120

Às vezes, olhando para os rastros do passado e para os vislumbres do futuro, eu fico pensativo... Ah! Se eu pudesse voltar ao passado, fazendo o que deveria ter feito e não fiz. Ah! Se eu pudesse voltar ao passado e deixar de fazer o que não deveria ter feito, mas fiz. Ah! Se eu pudesse voltar ao passado e consertar os erros que cometi. Ah! Se eu pudesse ver claramente o futuro, descobrindo como fazer o certo, agora, para não gerar erros, amanhã. Acabo percebendo, então, como é inútil ficar repetindo “ah! se eu pudesse”.
Mesmo assim, às vezes...

Publicado na edição 321 da Revista Ria de 29/10/2011

 

119

Em quase toda cidade, partidários do político A publicam um “jornal” contra o político B, pintando este como o verdadeiro diabo. Já os partidários de B publicam um “jornal” contra A, sendo este apresentado como pior do que Hitler. Os partidários de outros políticos também fazem a mesma coisa. Esses “jornais” são gratuitos, praticamente sem anunciantes, chegando a ter entrega domiciliar, em especial nos anos eleitorais. Quase todos são completamente tendenciosos, quando não descaradamente mentirosos. Esses “jornais”, além de representarem um desperdício ecológico, menosprezam a inteligência de seus leitores. Será que esses políticos não fazem o mesmo com seus eleitores?

Publicado na edição 321 da Revista Ria de 15/10/2011

 

118

Certa vez, eu escrevi isto para a minha filha mais velha: “No dia em que a sua Mãe ficou sabendo que você estava chegando, ela olhou para o Céu. Olhou, olhou, e então apareceu um arco-íris. E, até hoje, por mais que tentemos, não conseguimos achar a resposta: você é o tesouro que estava no final do arco-íris, ou uma estrela que caiu do Céu?” Neste sábado, ela vai casar... É bom que o Thiago olhe sempre para o céu. Mesmo, porém, que não olhe para lá, sempre vai ter a mesma dúvida que tenho até hoje: tesouro ou estrela?

Publicado na edição 321 da Revista Ria de 01/10/2011

 

117

Há momentos na vida em que, verdadeiramente, nós nos sentimos num inferno. Nessas ocasiões, não vislumbramos nenhuma esperança, nenhuma saída, nenhuma chance, nenhum milagre possível. É claro que ninguém gosta de viver num inferno, mas também é certo que de nada adianta fugir do reconhecimento de sua realidade. Aliás, o primeiro passo para sair desses buracos negros vitais é reconhecer que tudo parece estar perdido; é até reconhecer que tudo está, mesmo , perdido. Feito isso, precisamos encarar nossos demônios, um a um, lutando até a última gota de nossas forças para derrotá-los. A esperança é humana. O desespero, também.

Publicado na edição 320 da Revista Ria de 17/09/2011

 

116

Quando somos crianças, sonhamos em ser adolescentes. Quando adolescentes, ansiamos pela liberdade de adultos. No ensino fundamental, só pensamos em chegar ao médio. Já no ensino médio, ansiamos pela faculdade. Na faculdade, não vemos a hora da formatura. Ansiamos por um bom emprego; quando o conseguimos, sonhamos com as férias, com a aposentadoria. No almoço, pensamos na janta; durante o jantar, planejamos o próximo almoço. Descansando na cama, antes de pegarmos no sono, projetamos o dia seguinte. De dia, exaustos, sonhamos com um descanso. Nunca estamos onde estamos. Nessa ânsia pelo depois, deixamos de viver plenamente o agora. Somos loucos.

Publicado na edição 319 da Revista Ria de 03/09/2011

 

115

Diante de certas perguntas (De onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos?), existem quatro grupos de pessoas. Para o primeiro, não há perguntas a serem respondidas: vivem só na matéria. O segundo grupo acredita que já tem as respostas definitivas: também vivem só na matéria, mas a envolvem com uma aparente espiritualidade, baseada em líderes, ritos, livros. O terceiro questiona se as respostas costumeiramente dadas são as certas: estes começaram a vislumbrar o Caminho. Existem, por fim, algumas pouquíssimas pessoas que questionam não só as respostas, mas também as perguntas: estes caminham; e o Caminho é para dentro.

Publicado na edição 318 da Revista Ria de 20/08/2011

 

114

Os momentos de extremo sofrimento ou de extrema alegria podem servir para identificar o verdadeiro Amigo. O verdadeiro Amigo não espera pedido de socorro. Vem e socorre; anonimamente, se possível. Compartilha a dor, a vergonha, o desespero, fazendo de tudo para eliminar ou diminuir sua intensidade, buscando a todo custo amaciar os impactos produzidos por esses estados. Por outro lado, fica feliz com a felicidade do Amigo, sem inveja, sem cobiça, sem desdém mascarado de sorriso forçado. Sente, verdadeiramente, a felicidade como sendo sua. Quem não age assim pode ser tudo, menos verdadeiro Amigo. Verdadeiro Amigo, quando existe, dificilmente tem plural.

Publicado na edição 317 da Revista Ria de 06/08/2011

 

113

Há momentos realmente gravíssimos, catastróficos, desesperadores: a morte de uma pessoa amada, o aviso da nossa morte próxima, separações, perdas (do emprego, da liberdade, da reputação), fracassos e vergonhas mil. Trata-se do desmoronamento daquilo que chamamos de “nossa Vida”. Muitas dessas catástrofes, como a morte de um ente querido, não são causadas por nós. Muitas outras, porém, são criadas pelos passos errados que damos, ou por não darmos os passos certos. Nesses momentos, precisamos agir, por menor que seja a possibilidade de ação. Quando nada, mesmo, parecer ser possível, ainda nos restará a observação da nossa respiração. Isso é meditação.

Publicado na edição 316 da Revista Ria de 23/07/2011

 

112

Esta é a maior verdade, acreditemos ou não na espiritualidade: do mundo nada se leva. E da Vida? Levamos algo? Mestres das mais diversas tradições espirituais sabiam que, da Vida, só levamos o que construímos dentro de nós: a luta contra o orgulho, os vícios, a soberba; a luta em prol dos irmãos, em busca do Amor sem condições. Ainda espermatozóides, somos colocados diante de nossa primeira luta: passarmos de centelha a chama. E por aí seguimos, de luta em luta, sempre, até nosso túmulo. O importante não é o resultado, mas lutar, lutar sempre, do primeiro ao último segundo.

Publicado na edição 315 da Revista Ria de 09/07/2011

 

111

Já me enganei muito com os outros. Pensei, certa vez, que havia encontrado um verdadeiro Mestre; descobri, então, que não passava de um enganador. Muitas vezes pensei ter encontrado um novo amigo, daquele tipo sincero, capaz de ir até o inferno para nos fazer sentir no céu. Uma vez depois da outra, porém, melancolicamente, percebi que não passavam de colegas, cujo único diferencial estava na proximidade geográfica. A maioria das pessoas tem o costume de chamar todos de amigos. Amigo, porém, é coisa raríssima. Não me arrependo das tentativas frustradas, mas como é bom ter meus dois ou três Amigos.

Publicado na edição 314 da Revista Ria de 25/06/2011

 

110

Domingo, sete da noite. Minha mulher foi a São José dos Campos. Minha filha mais nova está voltando para Campinas. Minha filha mais velha, meu filho, meu pai e minha irmã estão em São Paulo. Meus dois ou três amigos verdadeiros estão em suas casas. Minha mãe está no céu. E eu, aqui, sozinho na cozinha, ouvindo o barulho da geladeira, fuçando na Internet. Um cachorro late, e seu latido parece repetir que a vida é assim. Sei que existe uma presença maior do que todas as ausências. Entre saber e vivenciar, porém, existe um deserto que se chama eu.

Publicado na edição 313 da Revista Ria de 11/06/2011

 

109

Cada vez mais, aprendo a ler as pessoas. Sim, as pessoas (eu, em primeiro lugar) são como livros. E, por mais que todos se esforcem para manter seus livros da vida trancados sob as aparências, eles acabam sendo abertos, mais cedo ou mais tarde. Geralmente têm uma capa bonita, às vezes até possuem belas páginas, com figuras maravilhosas. Quando, porém, a leitura chega às entrelinhas, começa a aflorar a verdadeira pessoa; e esta é, quase sempre, muito feia. Não passamos de meros rascunhos a lápis em pedaços de papel de embrulhar pão. Mas posamos de obra rara... Humildade é fundamental.

Publicado na edição 312 da Revista Ria de 28/05/2011

 

108

Dizem que tudo já está escrito, que existe sorte, destino. Não sei se a sorte do nosso destino já está traçada antes de nascermos, mas sei que podemos, pelo menos, ajudar a construir o destino da nossa sorte. Para isso, precisamos de atenção e sabedoria. Não basta a sorte de aparecer um Michelangelo em nossa vida: precisamos reconhecê-lo. Mas o reconhecimento também não basta: precisamos ser sábios, não desperdiçando Michelangelo na pintura com cal do muro de nossa casa. Todos os dias, deixamos de perceber a porta que nos separa dos milagres. Também deixamos de falar “abre-te sésamo”...

Publicado na edição 311 da Revista Ria de 14/05/2011

 

107

Os pessimistas maldizem a metade vazia do copo, enquanto os otimistas cantam louvores pela metade cheia. Aqueles vivem no inferno da metade vazia, deixando de perceber o Céu que existe na metade cheia. Já os otimistas fogem para a metade cheia, como se esta fosse uma droga que pudesse abafar a verdadeira ausência da outra metade. Os realistas são raros: ficam felizes pela metade cheia, mas também reconhecem o vazio da outra metade. O mais importante de tudo: agem para encher o copo de novo. Escrevi esse texto baseado em “La Vipassana”, de William Hart, Luz de Oriente, España.

Publicado na edição 310 da Revista Ria de 30/04/2011

 

106

Cada vez mais aumenta minha certeza de que já fomos invadidos por alienígenas há muito tempo. Pior que isso: estamos sendo governados por eles. De fato, todas as pessoas que encontro, seja nas ruas, nos mercados, nas igrejas, nos bancos, em qualquer lugar, vivem reclamando das autoridades e dos políticos desonestos. Nas cartas publicadas em jornais e revistas, os leitores também reclamam dessas autoridades e desses políticos. Todas essas pessoas se apresentam como honestas, puras, santas, imbuídas de uma indignação cívica. Mas se todas as pessoas são honestas, quem são as autoridades e os políticos desonestos? Só podem ser alienígenas...

Publicado na edição 309 da Revista Ria de 16/04/2011

 

105

Muito mais do que cem palavras já foram usadas, neste espaço, com o fim de nos lembrarmos de que, quase sempre, estamos “vivendo” no passado, sentindo arrependimento ou saudade; de que, quase sempre, estamos “vivendo” no futuro, sentindo ansiedade ou medo; de que, quase nunca, estamos centrados no momento presente. Como só se pode existir no agora, quem “vive” no passado ou no futuro simplesmente não existe. A maioria de nós somos, diante da Vida, simples fantasmas. Não somos seres reais. Apenas nos alimentamos, excretamos e nos reproduzimos, como qualquer ameba faz. Precisamos cair profundamente no agora. Mais cem palavras...

Publicado na edição 308 da Revista Ria de 02/04/2011

 

104

Tenho três filhos. A mais velha saiu de casa cinco anos atrás, para cursar a faculdade. A mais nova fez o mesmo, há dois anos. Segunda-feira, foi a vez do meu filho. Dizem que a vida toda passa diante dos olhos de quem está morrendo. Isso aconteceu comigo, a cada partida de um filho, inclusive nesta segunda, enquanto o Artur subia no ônibus: seu choro quando bebê, sua birra, sua curiosidade, seus olhos me procurando, seu sorriso, sua confiança, nossas conversas, dias atrás, sobre o sentido da vida... Segunda-feira, morri mais um pouco... Vai viver, meu filho. Estamos com você!

Publicado na edição 307 da Revista Ria de 19/03/2011

 

103

Já era noite, quando fiquei sabendo que, nos dias seguintes, passaria por sérios problemas. No caminho para casa, estava tão perturbado, que mal conseguia me concentrar na direção do meu carro. Reconheci, então, que, naquela noite, não poderia fazer nada para resolver aqueles problemas; só na manhã seguinte, e talvez não houvesse nada a ser feito. Num segundo, simplesmente aceitei aquilo tudo, até a possibilidade de dar tudo errado. Entrei no supermercado e comprei um chocolate do qual minha filha mais velha gosta muito. Cheguei em casa, dei a ela o chocolate. Tinha doze horas para viver ao máximo. Vivi.

Publicado na edição 306 da Revista Ria de 05/03/2011

 

102

Montanhas-russas produzem fortes emoções: sobem, descem, aceleram, deixam-nos de cabeça para baixo. Com o tempo, porém, vamos decorando o trajeto. Precisamos, então, para alcançarmos a mesma emoção de antigamente, de novas montanhas-russas, cada vez mais complexas. Cedo ou tarde, percebemos que elas não nos levam a lugar nenhum: sempre chegamos no mesmo ponto de onde partimos. As drogas também agem assim... Já a vida real é como um trem de longo percurso. Pode ser até que não corra muito, mas exibe paisagens maravilhosas, desde que estejamos abertos para percebê-las. Além disso, leva-nos a um destino, um destino escolhido por nós.

Publicado na edição 305 da Revista Ria de 19/02/2011

 

101

Há pessoas que, mesmo com sessenta, oitenta, cem anos, embora tragam muitas realizações, experiências, lições, trazem, também e ainda, o espírito do jovem, o olhar curioso da criança, o frescor vital do apaixonado. Há outras que, já quase centenárias, com rugas, mãos trêmulas, cabelos brancos e esquecimentos, continuam partilhando o Amor que sempre partilharam. Todas essas pessoas merecem nosso Amor, nosso respeito, pelo que foram e ainda são. Há outros, porém, idosos amargurados, revoltados, egoístas, cujo único mérito parece ser o fato de não terem morrido. O Tempo endureceu seus corações. Precisam de nosso perdão. E de muito Amor, também...

Publicado na edição 304 da Revista Ria de 05/02/2011

 

100

Vivemos em busca de certezas. Nessa busca, tentamos derrubar tudo e todos que estão no caminho. Quando não conseguimos derrubá-los, caímos na assombrosa constatação de que somos frágeis folhas flutuando ao sabor do vento das incertezas. Às vezes conseguimos derrubar os obstáculos do caminho. Mas em vez de alegria, percebemos que acabamos magoando pessoas, machucando a natureza. Caímos, então, na mesma constatação de que somos frágeis folhas.Da descoberta de como engatinhar até a descoberta que fizemos segundos atrás, estamos sempre buscando certezas. Se um dia conseguíssemos aceitar que as incertezas podem ser belas, quem sabe nós começaríamos a viver.

Publicado na edição 303 da Revista Ria de 22/01/2011

 

99

Eu quero ouvir, mas logo me vejo falando sem freios. Eu quero consertar, mas logo percebo que acabei quebrando mais. Eu quero unir, mas nunca consigo ultrapassar a simples tentativa, acabando por aumentar a distância entre os que já estavam separados. Eu quero curar, mas coloco tanto remédio, que intoxico o doente. Eu quero aliviar o peso dos outros, mas sou tão estabanado, que desequilibro a carga toda. Eu quero tanto fazer, ajudar, alcançar, iluminar, construir. Sou tão insensato, porém, tão inábil, tão descuidado, que só transformo em frustração os sonhos que busco tocar. Fracassado? Não: só um ser humano.

Publicado na edição 302 da Revista Ria de 08/01/2011

 

98

É Meu filho está viajando pela América do Sul, no estilo mochileiro, sem lenço e quase sem documento. Ele vem escrevendo, num blog, suas aventuras pelo continente. Mesmo deixando o orgulho de pai de lado, preciso reconhecer que o blog está muito interessante. Somando isso ao fato de meu filho estudar jornalismo, veio a ideia: por que ele não escreve um livro sobre a viagem? Nesse momento, eu senti o que é o apego, esse causador de todas as doenças do homem. O blog deve estar interessante justamente porque ele está só vivendo a viagem. Estamos sempre querendo segurar a borboleta...

Publicado na edição 301 da Revista Ria de 25/12/2010

 

97

É fácil falar da importância do momento presente. Também é fácil sentar sobre uma almofada, fechar os olhos, tentar relaxar. Mais fácil, ainda, é imaginar, nessa tentativa, um lugar paradisíaco, uma música angelical. O problema é viver a realidade do momento presente. O difícil é estar centrado em si, seja num ônibus das seis da tarde, seja na cadeira da dentista. O que é praticamente impossível é sentir o paraíso em todas as coisas, é ouvir o canto dos anjos até na falta de esperança. A Vida tem um perfume chamado Paz. Quase ninguém, porém, percebe isso. Nós estamos dormindo...

Publicado na edição 300 da Revista Ria de 11/12/2010

 

96

Todos temos ou teremos momentos críticos na vida, como doenças, mortes, revezes, quedas, humilhações. Por piores que sejam essas situações, enquanto ainda existe uma chance de saída, conseguimos manter pelo menos um traço de esperança: vamos levando... Quando, porém, desaparece toda possibilidade de um porvir, percebemos que estamos no fundo de tudo. Esse é um momento muito doloroso, angustiante, sufocante, amedrontador. Em muitos casos ele conduz ao desespero, ao suicídio; na melhor das hipóteses, a uma resignação ressentida. Em raríssimas vezes, porém, esse estado pode levar à compreensão de que nós e Deus somos Um, de que somos só Amor.

Publicado na edição 299 da Revista Ria de 27/11/2010

 

95

Antigamente, eu pensava que os homens poderiam vir a ser deuses. Na verdade, pensava que eles poderiam relembrar que são deuses. Com o tempo, porém, fui vendo tanta mesquinharia, tanto egoísmo, tanta guerra, que minha dúvida já era outra: seriam os homens humanos? E o avançar de meus anos me trouxe exemplos cada vez mais deprimentes e generalizados de “homens” lutando feito espermatozóides para obterem o primeiro lugar, sem a mínima preocupação – nessa luta insana - com os outros. Hoje percebo que vivemos como espermatozóides em busca do óvulo. Minha pergunta atual é esta: viraremos embrião um dia?

Publicado na edição 298 da Revista Ria de 13/11/2010

 

94

Certa vez resolvi fazer meditação. Comecei comprando alguns livros sobre o tema. A seguir comprei incenso, discos com música para relaxamento e uma cadeira de espaldar reto. Depois de ler bastante, acendi o incenso, liguei a música, apaguei as luzes e ajeitei-me na cadeira. Fechei os olhos e esperei. Esperei pelo relaxamento, mas ele não veio. Ele não vinha. Cansado de tentar relaxar, saí pela rua. Vi as árvores, as pessoas, a Vida. Senti minha respiração, meus passos, o vento no meu rosto. Percebi, então, que estava meditando. Meditação é isto: com a maior simplicidade, ser um com a Vida.

Publicado na edição 297 da Revista Ria de 30/10/2010

 

93

Em plena campanha eleitoral, em vez da discussão sobre programas de governo, realiza-se uma caçada aos que seriam a favor do aborto. Esse desvio do que deveria ser um debate efetivo sobre o futuro do Brasil é asqueroso. Em primeiro lugar, porque só mesmo monstros poderiam ser favoráveis ao aborto. De fato, ninguém com pelo menos uma gota de bom senso pode ser a favor da morte; pode, isto sim, desejar que as mulheres que, lamentavelmente, tenham praticado esse ato, recebam não cadeia, mas ajuda médica, psicológica, espiritual. Em segundo lugar: é triste como as pessoas conseguem jogar tão sujo...

Publicado na edição 296 da Revista Ria de 16/10/2010

 

92

Sábado passado, onze da noite, na Capital, uma pessoa me disse, em seu apartamento, que queria mudar: na segunda, iria começar um regime; iria passar a ler todo dia; iria comprar um aparelho de ginástica. Alertei-a de que as mudanças só poderiam ser feitas no agora. Fomos, então, a um supermercado, adquirindo os ingredientes para uma mudança de hábitos alimentares. Na manhã de domingo, o novo cardápio foi posto em prática; o exercício físico consistiu em subir e descer quinze andares de escadas; a leitura começou com um livro que estava na estante. Mudar é isso. O resto é fuga...

Publicado na edição 295 da Revista Ria de 02/10/2010

 

91

Descobri dois segredos que trazem mais Paz do que a mais sublime das orações, a mais centrada das meditações. Descobri dois segredos que ultrapassam todo o conhecimento humano, que sintetizam todas as ciências, todas as religiões. A única maneira de conhecer esses segredos consiste em colocá-los em prática. Quer tentar? Aqui vai o primeiro: peça perdão para quem você ofendeu. O segundo: perdoe quem você pensa que o ofendeu. Simples, não? Mesmo assim, conheço pais e filhos que não se falam, irmãos que se ignoram, parceiros que se agridem, amigos que se odeiam. Que tal praticarmos o perdão hoje, agora?

Publicado na edição 294 da Revista Ria de 18/09/2010

 

90

Você acredita em um Deus que é puro Amor? Se acredita, a melhor maneira de provar o acerto de sua crença é agir da mesma forma que Deus agiria: colocando Amor em tudo. Você não acredita em um Deus que é puro Amor? Nesse caso, a prova mais robusta a seu favor deve ser a demonstração de que esse tal deus é totalmente supérfluo. Para isso, nada melhor do que você mesmo fazer o que esse deus faria: colocar Amor em tudo. Pensando bem, não é importante crer ou não num Deus de Amor. O importante é só isto: amar.

Publicado na edição 293 da Revista Ria de 04/09/2010

 

89

No centenário de Chico Xavier, surgem filmes, livros, coletâneas, músicas sobre ele. As obras lançadas, porém, apresentam algo diferente dos quase quinhentos livros publicados por aquele coração em forma de homem. Enquanto o Chico nunca recebeu um centavo sequer pelas suas obras, hoje, salvo alguma exceção que desconheço, busca-se ganhar tudo o que é possível com essas produções. Muitos estão ganhando muito dinheiro com esse centenário. É triste acontecer isso justamente na comemoração de uma pessoa que era pura e total doação, puro e total Amor. Falar do Chico é fácil. Agir como ele agia já é uma outra história.

Publicado na edição 292 da Revista Ria de 21/08/2010

 

88

Já ouvi histórias de pessoas que, com vinte anos de idade, passaram a buscar fortuna. E, nessa busca, chegaram a passar fome, sempre guardando todos os centavos. Chegaram aos trinta, mas ainda não eram ricas. Aos quarenta, embora ricas, buscavam o primeiro milhão. Aos cinquenta, já milionárias, continuavam a querer ter mais. Nessa busca, deixaram de viver aos vinte, aos trinta, aos quarenta, aos cinquenta. E assim continuaram, até os oitenta, noventa. Acumularam matéria, mas passaram pela vida, pela família, pelos amigos. Chegaram, então, a um estado em que se percebem sem família, sem amigos, numa inesgotável pobreza de espírito.

Publicado na edição 291da Revista Ria de 07/08/2010

 

87

Todos gritam por paz, mas pedem pena de morte. Todos falam de amor, mas destilam o ódio diante de algum suspeito de ter cometido um crime. Todos pedem justiça, mas consideram um absurdo alguém exercer seu direito de defesa. É claro que, quando elas mesmas ou seus íntimos estão na berlinda, aí passam a ser contra a pena capital, exigindo a mais ampla defesa. O nome disso é hipocrisia. Ninguém duvida de que, na matemática ou na eletricidade, o negativo é neutralizado pelo positivo. Já na vida em geral, queremos neutralizar a violência com ódio. Isso não vai funcionar nunca

Publicado na edição 290 da Revista Ria de 24/07/2010

 

86

É um círculo vicioso. Nosso ego quer sempre inchar, ser o mais poderoso, o mais rico, o mais famoso. Depois de alcançar o poder, a riqueza, a fama, procura mais poder, mais riqueza, mais fama. Procura, também, maneiras de prolongar ao máximo (já que perpetuar é impossível) as suas conquistas. Surgem, então, as cirurgias plásticas e outras ilusões similares. Algumas raríssimas pessoas, um dia, reconhecem que a Luz só é alcançada pela humildade, pela doação, pelo Amor incondicional. Rapidamente, porém, muitas destas se sentem como as mais humildes, as mais solidárias, as mais amorosas. Egos inchados... É um círculo vicioso.

Publicado na edição 289 da Revista Ria de 10/07/2010

 

85

Já deve ter acontecido com você: em alguns momentos, parece que tudo está bem, que tudo está conectado com tudo. Em geral não são momentos nada especiais, mas sim idênticos a muitos outros momentos comuns. Na verdade, não é o momento que traz aquela percepção especial. O que acontece é que nós recebemos um pequeno raio de lembrança. Lembramo-nos, parcialmente, por alguns segundos, de que somos divinos. O problema é que essa lembrança logo desaparece. A única e verdadeira doença do ser humano é a amnésia. E a única cura é estar presente no presente, vivendo plenamente no agora.

Publicado na edição 287 da Revista Ria de 12/06/2010

 

84

Aquela frase me fez pensar... Fechei o livro e saí pela rua. Vi que os homens, quase todos eles, traziam no rosto ou o medo, ou a raiva ou o tédio. Em cada esquina, em cada praça, nos carros, nas casas: medo, raiva ou tédio. No meio do caminho, vi um casal de pombos tirando os piolhos um do outro, gozando o calor das onze horas, sem medo, sem raiva, sem tédio, numa inocência plena e serena. Abri o livro e li de novo. Já confuso, esfreguei os olhos e li outra vez: “o homem é a obra-prima da criação”.

Publicado na edição 286 da Revista Ria de 29/05/2010

 

83

Há momentos em que o desmoronamento parece ser total, sem fim. Tudo se desmancha e continua a se desmanchar. Nada se mostra firme, permanente, seguro. Nesses momentos, queremos gritar, mas a voz nos falta; queremos fazer mudanças, mas parece que não adianta mais nenhuma tentativa nesse sentido. É o limite entre a sanidade e a loucura, a vida e o suicídio, a esperança e o desespero, o agir e o fugir. Nesses momentos, apelamos para Deus, que parece não ouvir. Só temos uma saída: continuar a caminhar, mesmo sem chão, só porque caminhar é preciso, assim como respirar, amar, viver.

Publicado na edição 285 da Revista Ria de 15/05/2010

 

82

É muito difícil, praticamente impossível uma pessoa totalmente honesta, totalmente ética e totalmente boa alcançar a riqueza, a fama ou o poder. Isso pode parecer conversa de fracassado, mas é a mais pura verdade. E também é verdade que não basta a presença da honestidade, da ética e da bondade para que uma pessoa trilhe o caminho que conduz a Deus. Para se avançar na trilha rumo à Luz, tais requisitos são, realmente, imprescindíveis. Mas eles podem nada significar, se também não estiver presente um outro ingrediente: ver-se no outro; mas se ver no outro de verdade, de verdade, mesmo!

Publicado na edição 284 da Revista Ria de 01/05/2010

 

81

Rezar é bom. Meditar é bom. Recitar orações tradicionais pode ser bom; orar com o fundo da alma é ainda melhor. Concentrar-se o máximo possível é bom; soltar-se totalmente, mesmo no meio do barulho do mundo, é ainda melhor. Existe, porém, uma oração que é a maior de todas. Existe uma meditação que ultrapassa os limites do que é bom, ótimo ou excelente. Quando sentimos nosso trabalho como uma homenagem a Deus, começamos a voar. Quando, diante dos obstáculos, sentimos sua transposição como um hino à divindade, estamos no Céu. Nada é mais divino do que a Vida.

Publicado na edição 283 da Revista Ria de 17/04/2010

 

80

Uns acreditam na ressurreição; outros, na reencarnação. Nada disso, porém, é importante. O importante, mesmo, é acreditarmos na nossa Encarnação, na maravilha que é estarmos neste Mundo. Em vez de buscarmos o conhecimento de vidas passadas, no lugar de ansiarmos por uma vida futura de glória, deveríamos alcançar o mais profundo assombro por estarmos vivos, agora. O primeiro passo rumo a esse assombro consiste em nos voltarmos para o nosso interior, onde está Deus, a Luz, o Amor. O segundo passo, em vermos Deus, a Luz e o Amor em tudo e todos. Depois disso, não damos mais passos: voamos!

Publicado na edição 282 da Revista Ria de 03/04/2010

 

79

Há momentos de dúvida, mas há, também, os de total desesperança. Há situações de dor, mas há, por vezes, aquelas de verdadeira aflição. Em certas fases, chegamos a ficar deprimidos; noutras, porém, entramos no real desespero. No meio da desesperança, da aflição, do desespero, clamamos por ajuda. Atingimos, então, o cume da falta de sentido, o fundo do poço vital, quando, diante de nosso clamor, ninguém responde... Nesse estado de dor paralisante, só nos resta a solidão da culpa, da dor, do medo. Mas essa solidão pode ter um lado bom: criar em nós a Compaixão pelo clamor do outro.

Publicado na edição 281 da Revista Ria de 06/03/2010

 

78

O sucesso do momento no mundo da alimentação natural é denominada ração humana. Ela nada mais é do que a mistura de cereais, amêndoas e frutas.  Embora não exista nada de novo em se misturar aveia, nozes, uva passa e similares, isso virou um grande sucesso em vendas. Esse produto pode até ser bom, desde que a qualidade de seus componentes seja boa. O mais importante, porem, é que que as pessoas vão consumi-la precisam ser verdadeiramente humanas. Ela não surte efeito em máquinas, feras, camaleões. Ah como seria bom se vendessem bom senso, consciência e espiritualidade em saquinhos.

Publicado na edição 280 da Revista Ria de 06/03/2010

 

77

Sob holofotes, qualquer covarde egoísta é capaz de atos heróicos. Difícil é agir heroicamente sempre, mesmo quando a única testemunha de nosso agir é a nossa consciência. Fazer caridade para engrandecer nosso conceito perante os outros, para capitalizar o perdão de nossos erros, para garantir nosso lugar no Céu, isso nada mais é do que um negócio. Quando, porém, a caridade é feita como uma homenagem a quem recebe a ajuda, ela passa a ser Amor. Enquanto nossas ações não forem simples atos de homenagem à Vida, sem objetivos, sem busca de ganhos nem de prevenção de perdas, seremos miseráveis.

Publicado na edição 279 da Revista Ria de 20/02/2010

 

76

Alho, feijão branco, linhaça, aveia, sucupira e muitos outros ingredientes já foram celebrados como milagrosos. Cada um deles já foi a estrela da semana na TV, em jornais, em revistas. E, a cada semana, é eleita uma nova substância milagrosa, com a promessa de curar tudo, de furúnculo a diabetes; com a garantia de fazer emagrecer sem que o obeso precise mudar seus hábitos. E as pessoas saem como doidas em busca de suas porções de promessas de milagres. Confundir milagre com notícia para vender jornal pode causar muita frustração. Há substâncias muito boas, sim, mas elas não fazem milagres.

Publicado na edição 278 da Revista Ria de 06/02/2010

 

75

O Mundo é povoado por loucos. Buscamos poder, riqueza, fama. Buscamos a satisfação total de nossos desejos, mesmo sabendo que essa satisfação nunca chega a ser total, nunca dura mais do que alguns instantes, por mais loucuras que façamos para obtê-la e mantê-la. Muitos de nós duvidam de tudo. Outros acreditam em tudo: em livros, em dogmas, em homens, em deuses. Criamos nossas próprias Disneylândias e fugimos para elas. Somos loucos...literalmente loucos. O máximo que podemos fazer sobre isso é alcançar a consciência dessa loucura. Essa é a diferença entre um louco e um mestre: este sabe que é louco.

Publicado na edição 277 da Revista Ria de 23/01/2010

 

74

Já discuti por coisas tão sem importância. Já briguei por ninharias. Já me preocupei por causa de tantos nadas. Por outro lado, muitas vezes quis elogiar alguém, mas, por medo de parecer ridículo, guardei o elogio em meu interior. Muitas vezes também quis abraçar, dirigir palavras de incentivo, de consolo, de amizade, mas sempre aparecia o medo de ser ridículo, e eu me calava... Ridículo, mesmo, é não expressar o Amor que tudo permeia. Ridículo, mesmo, é dar valor ao que não tem valor. Ridículo, mesmo, é deixar a Vida escorrer pelas bordas do agora. Abrace, elogie, incentive, ame! Agora.

Publicado na edição 276 da Revista Ria de 09/01/2010

 

73

Não sei se no ano que entra vou ficar milionário ou vou virar mendigo; se vou brilhar ou fracassar; se vou viver doze meses ou se vou morrer hoje; se vou sorrir ou vou chorar; se vou voar ou se vou ficar preso numa cama; se vou gritar de entusiasmo ou se vou gritar de dor. Só sei de uma coisa, em resumo: no novo ano eu quero sentir, sempre, em qualquer situação, em todo lugar, que só o Amor existe. Resumindo mais, ainda: desejo que o resumo anterior seja uma Verdade, não uma frase de texto de ano novo.

Publicado na edição 275 da Revista Ria de 26/12/2009

 

72

Por que a Vida, que é um pulsante milagre, em vez de ser vista dessa maneira, torna-se um vale de lágrimas, de dores, de cismas, de rostos enrugados por preocupações, medo?  Se tudo o que é, como já se cantou, é divino e maravilhoso, por que não percebemos a divindade e a maravilha que criam e permeiam a Vida?  Por que estamos, quase sempre, com saudade do que passou e com ansiedade pelo que está por vir, ignorando o que acontece no presente?  Respirar fundo, conversar com um amigo, cheirar uma flor, pedir perdão, perdoar, amar.  Fazer isso agora...

Publicado na edição 273 da Revista Ria de 28/11/2009

 

71

Ah, se pudéssemos voltar aos instantes imediatamente anteriores aos erros que cometemos... Naqueles causados por nossos atos, iríamos contar até mil, um milhão, se preciso fosse, até que a vontade ou a idéia erradas desaparecessem; depois, então, voltaríamos a contar, até que surgisse a vontade correta, a idéia perfeita . Para os erros nascidos da inação, iríamos respirar fundo e começar a agir imediatamente. Como seria maravilhoso não errar. Como seria deslumbrante acertar sempre. O único problema é que teríamos tanto medo de errar, que estaríamos sempre contando e respirando fundo. Não sobraria tempo para viver, para amar, para ser.

Publicado na edição 272 da Revista Ria de 14/11/2009

 

70

Há pessoas que envelhecem. Os anos vividos e as certezas estabelecidas vão aumentando cada vez mais. Elas estão sempre envelhecendo, sempre cristalizando suas indiscutíveis certezas.
Há outras pessoas, porém, pouquíssimas, aliás, que não envelhecem: na verdade, crescem. Elas nunca param de crescer. Seus anos vividos também vão aumentando, é claro. Suas certezas, no entanto, vão diminuindo cada vez mais. A cada segundo, certezas anteriores se transformam em novas dúvidas. Não há nada mais vivo e gerador de Vida do que a dúvida. A certeza, por outro lado, é um verdadeiro túmulo. Quem está absolutamente certo de suas certezas já morreu.

Publicado na edição 271 da Revista Ria de 31/10/2009

 

69

Em momentos de extrema crise, como no dia em que minha Mãe morreu, tive a plena convicção de que as coisas mais importantes na Vida são, também, as mais simples.  São coisas que não podem ser compradas com dinheiro.  São, aliás, coisas que sempre estiveram conosco, mas às quais nunca demos importância quase nenhuma.  A família reunida, um abraço num amigo sincero, um par de ouvidos a nos escutar, um sorriso largo e sem motivo de uma criança, a Sabedoria dos mais idosos, esses são os momentos que ficam para sempre.  Geralmente percebemos isso muito tarde...  Por que não hoje?

Publicado na edição 270 da Revista Ria de 17/10/2009

 

68

Hoje sou um Odair que busca, desesperadamente, acreditar que Deus existe. Livros, vozes, sinais gritam que Ele existe, é Bom, Justo e Compassivo, mas nada disso pode me trazer a certeza plena de sua Existência. Mesmo que tivesse alcançado essa certeza, seria impossível acreditar em sua Bondade, Justiça e Compaixão, diante de tantas histórias de dor. Um dia, porém, deixarei de lado livros, vozes e sinais, mergulhando, simplesmente, no meu Ser. Recordarei, então, que Ele é em mim, que Ele é Amor. Nesse dia, a dúvida será outra: o Odair existe? E, serenamente, perceberei a falta de importância dessa dúvida...

Publicado na edição 269 da Revista Ria de 03/10/2009

 

67

Cair dói. Cair nos deixa, quase sempre, desesperados. Uma das maneiras de suavizar esse desespero é perguntar: por quê? Quando a resposta está fora de nós, a queda dói, é claro, mas sempre resta uma gota de consolo, eis que podemos nos ver como vítimas. Quando, porém, constatamos que fomos os causadores de nossa própria queda, a dor aumenta ao extremo, alcançando as profundezas infinitas da desesperança, da culpa, da tristeza, do medo, da vergonha. Mas muitos usaram esse desespero lancinante como semente de amor a Deus, aos outros e a si próprio. E alcançaram o cume infinito da Paz.

Publicado na edição 268 da Revista Ria de 19/09/2009

 

66

Se eu conseguisse aceitar que sou muito pequeno, um grão de areia no Saara, uma gota no Atlântico, um segundo na eternidade. Se mais do que aceitar, eu conseguisse sentir que, mesmo sendo essa poeira, essa gota, esse instante, eu sou um reflexo de Deus. Se esse sentir me fizesse alcançar a plena convicção de que só o Amor existe. Se, assim convicto, percebesse claramente que todos vivem em mim, que eu vivo em todos. Se, vendo-me no meio dessa maravilhosa Vida sem limites, eu me lembrasse de que sou poeira, gota, instante, teria dado o primeiro passo no Caminho.

Publicado na edição 267 da Revista Ria de 05/09/2009

 

65

Ter sucesso na vida pode parecer uma coisa boa, mas também pode significar uma sentença de morte, ou melhor de uma vida vazia, sem progresso existencial, sem um passo sequer rumo à espiritualidade. Quem se acha quase (ou mais que) um deus, quem resume o Universo ao se sucesso, seus bens, fama, poder, não se questiona, não vê por que precisaria pensar em mudar. Fecha-se nos seus princípios e valores (que julga perfeitos). É puro egocentrismo.
Essas pessoas nem chegam ao patamar da pergunta: acredito em Deus? Elas precisam, primeiramente, passar por uma pergunta muito mais difícil: acredito em mim?

Publicado na edição 266 da Revista Ria de 22/08/2009

 

64

O verdadeiro e definitivo remédio para as doenças da Humanidade não é um remédio. Não há gotas, comprimidos, receitas, tratamentos, cirurgias, programas, resoluções capazes de curar as doenças dos seres. A única maneira de alcançar a cura é aceitar que se está doente. Quando aceito que sou gordo, ou fumante, ou rancoroso, ou seja lá o que for, nesse momento a mudança da doença para a cura pode acontecer. Mas a mudança só acontece quando não é buscada. Se a doença não for aceita, ou se a cura for buscada, o máximo que se pode conseguir é uma melhora provisória.

Publicado na edição 265 da Revista Ria de 08/08/2009

 

63

Meus lábios, com aparência humilde, rezam “Pai nosso, que estais no Céu”. Meu coração, porém, com sua vã soberba e seu orgulho oco, grita: Odair, você é o maior, em todo lugar. Minha voz sussurra “santificado seja o Vosso Nome”, mas minha boca só faz louvar a mim mesmo. Enquanto digo, mansamente, “seja feita a Vossa vontade”, todo o meu ser busca, freneticamente, a satisfação de todos os meus desejos. O pão nosso? Nosso, não: Meu!. Perdão quero receber, sim; já perdoar... Nesses momentos, sinto como estou longe do Pai. E, mesmo assim, Ele me busca. Realmente, Deus é Amor.

Publicado na edição 264 da Revista Ria de 25/07/2009

 

62

Todos estão à procura de receitas. Receitas para ser feliz, emagrecer, ficar rico, conquistar o amor, o poder. Para ser um sucesso, o sucesso, o máximo. E compram livros, assistem a palestras, colecionam filmes, sempre em busca da melhor receita para isto ou para aquilo. Tomam remédios, medem gramas, gotas. Decoram fórmulas, exercícios, mantras, gestos, posturas. Tudo isso, na verdade, é loucura. Mais do que loucura: é inconsciência. As pessoas encaram a vida como se ela fosse algo muito pequeno, algo que pudesse ser manipulado por passes de mágica. Se tomassem consciência de que já são a maior magia possível...

Publicado na edição 263 da Revista Ria de 11/07/2009

 

61

Dizem que o dinheiro não traz felicidade; manda buscá-la. Isso não é verdade. O dinheiro é necessário, útil, mais do que útil, até. Mas ele só pode comprar coisas. Ele até pode, por exemplo, comprar acompanhantes e puxa-sacos. Não compra, porém, uma amizade sincera, muito menos um Amor verdadeiro. Acompanhantes e puxa-sacos, ao se deixarem comprar, deixam de ser pessoas: viram apenas coisas. O ouro pode comprar banquetes, viagens, jóias raras, mas não pode comprar a Paz de Espírito. Precisamos lembrar sempre que o dinheiro só pode comprar coisas. A Vida, as pessoas e seus reais sentimentos não são coisas.

Publicado na edição 262 da Revista Ria de 27/06/2009

 

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Dei uma ampulheta para a Carmen, como lembrança de nossas bodas de porcelana. Para chegar a vinte anos de União Viva, é preciso, vezes sem fim, esperar a areia se escoar, deixando ir com ela o ressentimento. É preciso aceitar que, nos momentos de crise, a areia demora mais para fluir. É preciso recomeçar sempre, virando a ampulheta, para surgir novo tempo. É preciso saber que o que afeta um lado também afeta o outro. É preciso lembrar que a porcelana vem da areia, assim como Uma Vida a dois vem de infinitos grãos de existir. É preciso viver amando!

Publicado na edição 261 da Revista Ria de 13/06/2009

 

59

O verdadeiro Amor dói. Gostar é uma coisa, apreciar é outra, mas amar ultrapassa tudo. Muitas vezes, quando me sinto o pior dos homens, eu me lembro de que já amei tanto, mas tanto, que doeu. Nesses momentos, deixo de me sentir lá embaixo. Sinto o roçar do Céu no meu cabelo. Já disseram que tudo é Amor, que só o Amor é real, que Deus é Amor. A cada dia que passa, eu sinto que, sem Amor, agimos como mortos fingindo ter vida. Já com verdadeiro Amor, mesmo que estejamos mortos, perfumamos com Vida Plena tudo à nossa volta.

Publicado na edição 260 da Revista Ria de 30/06/2009

 

58

O que muda quando as pessoas abandonam hábitos doentios? Sinto que, no fundo, a grande mudança de quem parou de beber não é ter parado de beber. A grande mudança de quem parou de fumar não é ter parado de fumar. A de quem emagreceu não é ter emagrecido. A de quem largou o vício do jogo não é ter parado de jogar. A de quem parou de usar outras drogas não é ter parado de usá-las. A grande mudança dessas pessoas é que, hoje, elas se amam muito mais do que antes. Aliás, será que, antes, elas se amavam?

Publicado na edição 259 da Revista Ria de 16/05/2009

 

57

Nos momentos em que percebemos como caímos fundo, estamos diante das melhores sementes.  Podemos plantá-las no solo profundo da consciência de nossos erros, sendo irrigadas pelo suor de nosso agir no caminho da mudança, aquecidas pela Luz do Agora.  Assim elas acabam morrendo como sementes, mas gerando uma floresta de Beleza sem par e sem fim.  Ou podemos deixá-las na tênue película da ilusão e da indecisão, apodrecendo com nossas lágrimas de remorso, sob a escuridão do ontem e do amanhã.  Assim elas morrem, não apenas enquanto sementes, mas também como florestas em potencial.  Só nós podemos decidir onde plantar.

Publicado na edição 258 da Revista Ria de 02/05/2009

 

56

Quando queremos mudar, nós nos concentramos nos resultados da mudança, não na mudança propriamente dita. Isso causa ansiedade, a qual, por sua vez, dificulta a mudança, quando não a aniquila. Outra coisa que fazemos é sentir remorso pelo rumo errado que trilhamos, ou por não termos mudado antes. Isso causa culpa, a qual, por sua vez, paralisa a mudança, quando não a aniquila. O ideal é nos concentrarmos em mudar a cada segundo, simplesmente por sentirmos que precisamos mudar. O maior resultado que podemos alcançar com nossa mudança é a coragem de mudar agora. A Mudança só pode acontecer agora.

Publicado na edição 257 da Revista Ria de 18/04/2009

 

55

Na infância, vivemos perguntando: “por quê”? Na adolescência, “por que sim”? “Por que não”? Já adultos, cada vez mais só respondemos: “porque sim”, “porque não”. Pensamos que nos aprimoramos com o tempo, o estudo, a experiência. Isso pode ser verdade, mas também pode ser pura ilusão. Quase sempre é só ilusão vaidosa. Quem busca a Luz, até pergunta, de vez em quando: “por quê”? Nunca responde “porque sim”, “porque não”. E, cada vez mais: “por que sim”? “Por que não”? A Vaidade traz respostas, a Humildade, perguntas. A Vaidade nos leva ao amor pelo poder. A Humildade, ao poder do Amor

Publicado na edição 256 da Revista Ria de 04/04/2009

 

54

Muitas e muitas vezes tentei provar que Deus existe, que é puro Amor. Muitas e muitas vezes tentei provar que Jesus Cristo realmente caminhou entre nós, sendo pura Compaixão. Muitas vezes tentei provar que existe algo além deste mundo material. Muitas e muitas vezes tentei provar que a morte não é o fim do Ser. Alguns poucos me ouviram, muitos me ignoraram, quase todos mudaram de assunto. Até eu me ignorei várias vezes. Hoje, desisti de tudo isso. Agora só quero provar para mim mesmo que eu existo, que posso me amar, que posso amar. Precisa mais do que isso?

Publicado na edição 255 da Revista Ria de 21/03/2009

 

53

Um filhote de cachorro, por mais meigo que seja, na hora de comer, age como se o Mundo fosse acabar logo depois, engolindo a comida numa ânsia louca. Nosso relacionamento com a Vida também é assim: sempre queremos engolir tudo, rapidamente, como se fôssemos apenas um sistema digestório, esmagando as experiências com os dentes dos anos, digerindo as pessoas com os ácidos de nossas palavras e ações, evacuando tudo e todos que já usamos. Se, em vez disso, sentíssemos as pessoas e as coisas que nos cercam, sentíssemos plena, profunda e conscientemente a Vida, perceberíamos que já estamos no Paraíso.

Publicado na edição 254 da Revista Ria de 07/03/2009

 

52

Como se diz, errar é humano. Não ter consciência dos erros, porém, é coisa do Diabo. A Humanidade faz de conta que não erra. Todos nos achamos vítimas, coitadinhos, sempre certos. Todos só criticamos e condenamos os erros dos outros, esquecendo-nos de nossas próprias quedas. Essa vaidade vazia, essa prepotência loucamente falsa faz nascer as guerras, dentro e fora de nós. Só a Verdade pode nos libertar dessa cegueira, tornando-nos humanos. E só quando nos tornamos verdadeiramente humanos, podemos alcançar Deus. Precisamos destruir essa vaidade, precisamos quebrar essa prepotência. A persistirem os sintomas, a Consciência deverá ser consultada.

Publicado na edição 253 da Revista Ria de 21/02/2009

 

51

Oi, Manhê! Ontem fez um ano que a senhora largou seu corpo de carne neste planeta. Faz tempo, mas volta e meia sinto como se estivesse recebendo, de novo, essa notícia desmoronante. Passei por muitas mudanças. Só não mudou a saudade... Muitas vezes eu me vejo pegando o telefone para contar para a Senhora as últimas novidades. E ontem? Por horas vi aquele seu olhar de curiosidade assombrosa, vi seu sorriso sem máscaras, vi seus gestos que sempre buscavam a compreensão entre todos. Não, Mãe, ontem não fui a um centro espírita. Só fui a uma casa com muitos espelhos.

Publicado na edição 252 da Revista Ria de 07/02/2009

 

50

Em geral, quem alcança o cume do Céu já caiu até o mais fundo dos infernos. Cristo disse que veio para os doentes, não para os que se acham sãos. Muitas vezes, é das profundezas da pior crise que brota a fonte da verdadeira Luz Eterna. Precisamos lembrar disso, quando caímos, quando recaímos. Dizem que o melhor é não cair, é não repetir o erro. Muitos, porém, não caem pelo caminho por um único motivo: não tiveram a coragem de andar. Suas vidas são túmulos. Às vezes é melhor cair, cair fundo, cair tantas vezes quantas forem necessárias, mas caminhar..

Publicado na edição 251 da Revista Ria de 24/01/2009

 

49

Conheço uma pessoa com dinheiro suficiente para viver muito bem, sem preocupações materiais. Mas vive num inferno. Conheço outra pessoa que, embora tenha finanças e emprego modestos, poderia levar sua vida de maneira normal. Vive, porém, num inferno, odiando seu trabalho. Ambos vivem no inferno, e não por problemas de saúde. Reclamam de tudo, de todos. Por onde passam, deixam seu rastro de amargor. Exalam um ressentimento contra algo que nem mesmo eles devem conseguir definir. É um ressentimento contra a Existência em si... O inferno é um prato a la carte: cada um pede o seu. O Céu, também.

Publicado na edição 250 da Revista Ria de 10/01/2009

 

48

Está escrito que estreita é a porta que conduz à verdadeira Luz, enquanto larga é a que leva à ilusão da matéria.  Isso é verdade.  Mas também é verdade que, para os que estão prontos para trilhar o caminho que leva à Luz, a porta nada tem de estreita: é infinitamente ampla.  Por outro lado, os que ainda patinam nas mentiras do mundo, com suas seduções denominadas riqueza, fama, poder, vaidade, orgulho, nem porta encontram para o caminho da verdadeira Luz Imortal: só deparam com paredes.  O pior de tudo: os que patinam amam patinar.  Assim, vidas são futilmente desperdiçadas...

Publicado na edição 249 da Revista Ria de 27/12/2008

 

47

Ter carro de luxo é errado em termos de espiritualidade? Não necessariamente. Para isso não ser um erro, é preciso que o dono do carro tenha plena consciência da honestidade da origem do dinheiro usado na compra. O mais importante: ele precisa sentir que o veículo é, simplesmente, um meio de transporte, não uma nova personalidade, não a paz, não uma forma para que os outros tenham por ele aceitação, admiração, inveja. Já quem, por falta de opção, precisa usar ônibus, carro velho, bicicleta, e os sente não como simples meios de transporte, mas como fontes de ressentimento, erra muito...

Publicado na edição 247 da Revista Ria de 29/11/2008

 

46

Muitos conseguem largar vícios e maus hábitos em geral através da religião. Isso pode parecer bom. A Verdade, porém, não é tão simples. Quando a Religião serve como um sinal indicando o caminho a trilhar para uma reforma íntima, o destino da caminhada é a Luz. Mas quando a religião simplesmente substitui uma droga, um mau hábito, ela é apenas isso: uma outra droga, um outro mau hábito. O destino dessa falsa mudança é o mesmo inferno de antes, embora com outras paisagens. No primeiro caso, o Amor cresce a cada dia. No segundo, crescem o auto-engano e a intolerância.

Publicado na edição 246 da Revista Ria de 15/11/2008

 

45

Embora causem enormes flagelos, álcool, cigarro, cocaína e outras drogas representam pequenos vícios.  O maior dos vícios, verdadeiramente, é a presunção de que não temos vícios, nem erros; de que nossa visão de Mundo é a certa; de que errados, viciados, ignorantes, maus são sempre os outros.  Essa é a causa de todos os males, até dos pequenos vícios.  Nesse auto-engano, vivemos numa ilusão confortável, mas mentirosa, esquecendo-nos de que somos seres eternos em busca do Eterno; de que o único Caminho para o Eterno é a permanente auto-destruição de nossas presunções.  Passamos nossos anos fingindo que vivemos...  Triste desperdício...

Publicado na edição 245 da Revista Ria de 01/11/2008

 

44

Abandonar vícios para preservar a saúde física, mental ou financeira é bom. Para parar de magoar entes queridos é muito bom. Para se auto dominar é ótimo. Mas se for para se aperfeiçoar, depois de um humilde reconhecimento dos próprios erros, é divino. Não falo apenas do álcool, fumo ou outras drogas; nem apenas do jogo, consumismo, promiscuidade. Falo, também e principalmente, dos grandes vícios, que atingem toda a Humanidade: orgulho, egoísmo, ganância, vaidade, inveja, maledicência, ódio e tantos outros. Só caindo e reconhecendo nossa cegueira espiritual, feito Saulo no caminho de Damasco, podemos ingressar na longa escadaria rumo à Luz.

Publicado na edição 244 da Revista Ria de 18/10/2008

 

43

Há momentos em que sentimos desmoronamentos: amor e amizade desaparecem, seja pela morte de parentes ou amigos, seja pela sua transformação em indiferença ou ódio; saúde, reputação, liberdade, dinheiro se transmutam em doença, prisão, vergonha, miséria; fé vira desesperança amarga solitária. Nesses momentos, queremos morrer. Mas há relatos de pessoas que estavam em campos de concentração, sabendo que logo iriam morrer, e que, mesmo assim, dedicavam-se a diminuir o sofrimento e o desespero dos outros. Falar e escrever sobre espiritualidade é fácil. Ter um milésimo de Amor, da Fortaleza e da Solidariedade dessas ,pessoas, porém, é praticamente impossível...

Publicado na edição 243 da Revista Ria de 04/10/2008

 

42

     São muitas as histórias em que o Bem, no final, ganha, brilha, vence. Elas aumentam a espiritualidade, fortalecem a Fé, reforçam o sentido da Vida. De Moral da história em Moral da história, vamos, em meio a finais felizes, caminhando para frente e para o alto. Até o Livro de Jó, depois de tanto sofrimento trágico, apresenta um “final feliz”. Difícil, mesmo, é mantermos nossa Fé, nossa Esperança, mesmo diante das histórias nas quais o Mal triunfa, o Bem sucumbe, o final é triste; principalmente quando vivemos essas histórias. Mas só aí saberemos se temos Fé. O resto é ficção.

Publicado na edição 240 da Revista Ria de 23/08/2008

 

41

Aqueles que o Mundo materialista considera vencedores são, no fundo, quase todos cruéis. É raríssimo vencer sem deixar pegadas de crueldade. Os que o Mundo considera fracassados não são menos cruéis, embora a crueldade destes receba outros nomes: inveja, despeito, rancor. Os mais cruéis, porém, e mais numerosos, são os medíocres. Essa multidão é duplamente cruel. Inveja os que subiram mais do que eles, torcendo para que caiam. Tripudiam sobre os poucos que subiram menos, tudo fazendo para que não subam mais, para que despenquem de vez. Posam de normais, corretos, bonzinhos, mas transbordam de ressentimento, maldade,
pobreza de espírito.

Publicado na edição 241 da Revista Ria de 06/09/2008

 

40

Você acredita em anjos? E em demônios? Não? Garanto que, se um dia você estiver a beira de um princípio, passará a acreditar neles
Nesses momentos extremos da Vida, muitos ficam torcendo para que caiamos. Outros ficam indiferentes, sem nenhuma preocupação sobre o que nos acontecerá. Sempre, porém, aparece pelo menos uma pessoa que se preocupa com nossa situação, que nos estende a mão, que busca nos ajudar a não cair. Os demônios da maldade e da indiferença existem, sim. Mas o Anjo da Amizade, do Amor, da Compaixão existe, também, e é muito mais forte do que qualquer demônio.

Publicado na edição 240 da RR 23/08/2008

 

39

Uns acreditam em tudo: livros, gurus, pastores, ismos.
Nada questionam, nada buscam. Aceitam o que lhes dizem. Outros não acreditam em nada, num ver para crer sem fim. Os primeiros dizem perceber Deus em tudo. Os outros, mesmo que Deus em pessoa aparecesse para eles, diriam tratar-se, segundo sua Ciência, de uma ilusão provocada por uma enzima x no neurônio y. Nenhuma dessas posições leva ao entendimento. Crer em tudo, simplesmente “porque sim”, é, no mínimo, ingenuidade. Nunca acreditar em nada, por sua vez, é a expressão máxima da prepotência vaidosa. O caminho do meio é muito, mas muito difícil...

Publicado na edição 239 da RR 09/08/2008

 

38

São muitas as histórias em que o Bem, no final, ganha, brilha, vence. Elas aumentam a espiritualidade, fortalecem a Fé, reforçam o sentido da Vida. De Moral da história em Moral da história, vamos, em meio a finais felizes, caminhando para frente e para o alto. Até o Livro de Jó, depois de tanto sofrimento trágico, apresenta um “final feliz”. Difícil, mesmo, é mantermos nossa Fé, nossa Esperança, mesmo diante das histórias nas quais o Mal triunfa, o Bem sucumbe, o final é triste; principalmente quando vivemos essas histórias. Mas só aí saberemos se temos Fé. O resto é ficção.

Publicado na edição 236 da RR 28/06/2008

 

37

Carmen, dia dez completamos mais um ano de casamento, de União. Sei que é impossível resumir em apenas cem palavras o que Você é para mim. Precisava de infinitos trilhões de páginas para tentar expressar tudo que sinto por Você. E seria só uma tentativa... Juntos geramos três seres maravilhosos. Juntos sorrimos, choramos, brigamos. Muitas vezes dissemos as piores palavras que podem ser ditas: nunca e nada. Mas também dissemos e vivemos o algo, o muito e o sempre.Nem sei como você suportou meus erros, meus vícios, minhas loucuras. Só sei que, enquanto eu respirar, quero respirar com Você.

Publicado na edição 235 da RR 14/06/2008

 

36

Todos passamos por momentos de angústia, desespero, desilusão. isso faz parte da vida,  como uma das faces da moeda. Ao contrário, porém, do "cara ou coroa" regido pela fria lei das probabilidades, pela sorte ou azar aleatórios, podemos agir para que a felicidade prevaleça em relação à infelicidade. Não, não podemos controlar os acontecimentos. A situação mais feliz pode, em um instante, desmoronar para uma desolação. Podemos, porém, escolher tentar extrair pelo menos uma gota de Paz, mesmo diante do maior deserto. A Escolha é nossa: destino ou criação. E a criação também só pode ser nossa. De mais ninguém.

Publicado na edição 234 da RR 31/05/2008

 

35

Eu estava aguardando para ser atendido num posto de saúde. Comecei a pensar sobre o que poderia fazer para aliviar o sofrimento da Humanidadeir. Minha cabeça começou a voar... Escrever um livro para amolecer os corações duros? Montar um site, no qual as pessoas pudessem me pedir conselhos para seu conforto espiritual? Criar um movimento de reforma íntima? Nesse momento, em que eu já me sentia tão bom como São Francisco, um senhor pegou um copo, encheu de água e regou uma planta ressequida. Nesse momento, aquela água como que me lavou, levando consigo minha vaidade. Voltei para o chão...

Publicado na edição 233 da RR 17/05/2008

 

34

Muitos passam anos em erros. Alguns, pelo Amor ou pela dor, tomam consciência disso. Destes, muitos estacionam na culpa; alguns resolvem agir. Destes últimos, muitos só ficam no discurso; alguns tentam mudar. É um processo difícil, lento. É como um agricultor que, em vez de jogar as sementes na terra, joga uma a uma no lago, divertindo-se com as ondas. Um dia percebe o que fez. E vê o que sobrou: uma semente e a fome sua e dos seus. O que fazer? Chorar? É inútil. Semear de manhã, esperando colher à noite? Impossível. Semear, cuidar, colher, semear de novo?

Publicado na edição 231 da RR 19/04/2008

 

33

Ter sede de buscar, domar a língua, ver-se nos outros. Esses são os três primeiros passos da busca espiritual. O quarto é uma ampliação do terceiro: sentir-se verdadeiramente um com tudo, não apenas com todos. Embora eu ainda nem tenha dado com firmeza o primeiro passo, antes de falar sobre o quinto, o sexto, o vigésimo, o milésimo, acho bom avisar o que acontece com quem chega ao último degrau do Caminho, ao cume da Iluminação, da Salvação, da Paz. Por seu coração estar tão cheio de Compaixão, voltará correndo à soleira do primeiro degrau, para ajudar todos na escalada.

Publicado na edição 230 do Jornalzinho Ria de 05/04/2008

 

32

 Cinco minutos antes da meia-noite de quarta-feira de cinzas, o coração de carne da minha Mãe parou de bater, depois de setenta e quatro anos bombeando Amor. A morte faz parte da vida, mas ela dói muito, dói demais. Ainda estou sem palavras, mas preciso dizer a você uma coisa: nesses momentos trágicos, percebemos o que é realmente importante na Vida. Sabe o que é importante de verdade? O relacionamento com as pessoas que amamos. Mãe, sei que a senhora está com Deus. Sei, também, que a senhora continua comigo, continua sendo a melhor Mãe que um filho poderia ter.

Publicado na edição 228 do Jornalzinho Ria de 08/03/2008

 

31

Perguntaram por que escrevo. Este é o motivo: mostrar que você é quase a melhor pessoa que existe. Digo “quase”, porque talvez o seu “melhor” esteja encoberto por vaidade, orgulho, raiva, indiferença. Mas tudo isso pode ser lavado com humildade e esforço. E assim o seu “melhor” vai brilhar. Também digo “quase”, porque, depois que você remover a sujeira que recobre seu “melhor”, com a Luz que vai surgir, você vai ver que todos também possuem um “melhor” como o seu, mesmo que ainda oculto. Nesse momento, você vivenciará que tudo e todos somos Um. Nesse momento, você verdadeiramente nascerá.

Publicado na edição 225 do Jornalzinho Ria de 26/01/2008

 

30

      Como já disse, estes são, segundo o que penso, os dois primeiros passos na busca espiritual: ter sede de tal busca e domar a língua. O próximo: ver-se nos outros. Cada dente de uma engrenagem é único em sua extremidade. No centro dela, porém, não distinguimos os dentes. Cada um de nós também é único, mas no fundo, no centro, somos um só. João é invejoso? No fundo sou eu com inveja. Pedro me ofendeu? No centro sou eu o ofensor. Maria me agrediu? Eu sou o agressivo. Mas devemos vivenciar isso. Precisamos sentir isso como algo vitalmente real, óbvio.

Publicado na edição 224 do Jornalzinho Ria de 12/01/2008

 

29

Nossa língua é um dos maiores obstáculos no caminho da busca espiritual. Quanto mais falamos (e, geralmente, mal) dos outros, mais difícil (ou impossível) fica a caminhada. Anos atrás, com muita luta, consegui domar minha língua. Acabei relaxando na vigilância, voltando ela ao seu estado selvagem. Mas se eu consegui, qualquer um consegue. O método, famoso, é simples, embora de dificílima execução. É verdade o que vou falar? Preciso falar isso? Gostaria que falassem isso de mim? Se uma das respostas for negativa, o melhor é calar. Feito isso, basta vigiar. Até quando? Até o nosso falecimento. Não é simples?

Publicado na edição 223 do Jornalzinho Ria de 29/12/2007

28

O primeiro passo de busca espiritual consiste em sentir necessidade dessa busca. Você acha que o sentido da vida se resume a poder, dinheiro, amor, amizade, família, prazeres, fama? Talvez você tenha razão. Ou talvez ainda não tenha chegado a sua hora de buscar. Você sente sede de um sentido  maior? Sente saudade de algo que não consegue explicar? Sente um desejo permanente de se religar a Deus, ao Amor, à Compaixão, à Luz? Talvez você tenha razão. Mas se você sente, verdadeira e profundamente, essa sede, o primeiro passo já esta dado. É hora de caminhar fumo à fonte.

Publicado na edição 222 do Jornalzinho Ria de 15/12/2007

 

 

27

Em três momentos da minha vida eu me senti no maior contato com Deus, ou outro nome que se queira dar a essa culminância: Amor, Luz, Eternidade, Compaixão. É algo extraordinário: como no filme Matrix, eu via tudo de outra forma. Tudo estava certo, tudo era Harmonia. Eu me via em todas as pessoas, e em todas - inclusive em mim - eu via o Amor. É um êxtase, é como se eu recebesse estgmas da Paz, e Paz sem adjetivos. Eu era um com todos, um comigo, um com o Amor. Que saudade...Eu preciso voltar a esse Primeiro Amor.

Publicado na edição 221 do Jornalzinho Ria de 01/12/2007

 

26

São sábios estes provérbios: errar é humano; persistir no erro é burrice. A maior burrice que podemos fazer, porém consiste em ficarmos alimentando mágoa, culpa, ressentimento e vergonha pelos nossos erros do passado. Isso nos mantém estacionados num presente vazio de realizações, cercados pelo medo de errar de novo no futuro. Precisamos, é claro, reconhecer nossos erros. Precisamos, com certeza, tomar a firme decisão de não errar mais. Mas também precisamos continuar a trilhar o caminho da Vida. Quem não se perdoa, não se ama. E quem não se ama, não consegue amar. Precisamos recomeçar sempre: reconstruindo, restaurando, criando, amando.

Publicado na edição 220 do Jornalzinho Ria de 17/11/2007

 

25

Imagine uma placa, na Capital, com uma seta indicando o caminho para o litoral. Imagine, ao lado dela, uma família sentada em cadeiras de praia, um isopor com bebidas, pessoas passando bronzeador umas nas outras. Reserve essa cena.
"Religião" significa religar o Homem com um sentido maior do que as nossas mesquinharias. As religiões são como placas indicando o caminho para essa busca. Pelo menos deveriam ser assim.
A maioria das pessoas que freqüentam igrejas, porém, apenas vão aos templos e repetem rituais, livros, canções.
Aquela família precisa seguir o caminho que  leva ao Mar.
E nos também precisamos caminhar.

Publicado na edição 221 do Jornalzinho Ria de 03/11/2007

 

24

No Brasil, as pessoas clamam por Justiça. Querem, na verdade, vingança. Pregam Honestidade, mas furam filas. Pedem Justiça Social, mas não registram seus empregados. Fazem passeatas pela Paz, mas guardam mil rancores. Pedem Polícia, mas se revoltam quando são revistadas. Exigem obras, mas não querem mudanças na frente de suas casas. Querem que os motoristas e motociclistas respeitem a ordem no trânsito, mas trafegam pelo acostamento; ciclistas vão por onde bem entendem; pedestres não respeitam o semáforo. Anseiam por igualdade, mas sempre querem passar na frente dos outros.
Com essas pessoas, dá para se construir uma Nação? Que triste comédia...


Publicado na edição 214 do Jornalzinho Ria de 25/08/2007  

 

23

Não posso provar que Deus existe. Porém, se Ele existe, com certeza é puro Amor. De fato, este mundo é povoado por pessoas más, invejosas. mesquinhas, rancorosas. A maior parte delas (eu, inclusive, é claro) só abre a boca pra falar mau dos outros. Vivem pedindo punição para os outros, mas não olham para seus próprios erros. Entregam a alma (própria, dos pais, dos filhos, dos irmão dos amigos) em troca de dinheiro. Aliás, só pensam em dinheiro, fama, poder, vaidade. Confesso: se eu fosse Deus, destruiria esta "humanidade" neste momento. Mas Deus não faz isso. Logo, é puro amor.

Publicado na edição 202 do Jornalzinho Ria de 24/03/2007 

 

22

         Muitos não acreditam em Deus.  Quase todos, porém, acreditam piamente em estatísticas ou risco-país.  Basta uma ONG divulgar alguma estatística, que a imprensa, os políticos, os que se auto-denominam representantes da sociedade civil saem como papagaios a repetir os números apresentados.  Não investigam a ONG, sua metodologia, seus pesquisadores e financiadores, muito menos eventuais interesses escusos em jogo.  Por sua vez, um grupo de homens com azia resolve que o risco do Brasil é x, e tal valor vai para a primeira página dos jornais.  Precisamos parar de dar tanto crédito a ONGs, à imprensa e a aparecidos de plantão.

Publicado na edição 202 do Jornalzinho Ria de 10/03/2007 

 

21

                Tentei várias vezes fazer minha reforma íntima, abandonando vícios e outros defeitos. Tentei, caí, tento... Descobri, então, que, antes de tirar de mim esses males, preciso colocar em mim alguns bens. Preciso me emcher de Amor, Perdão. Preciso parar de julgar. Preciso, ao ver os erros dos outros, entender que, nas mesmas condições, talvez eu errasse muito mais. Preciso me ver nos outros, sempre. Preciso, enfim, sentir compaixão. Por mim e por todos os seres. Compaixão não é pena. É sentir com. E com paixão. Estou nascendo de novo agora. Você também está nessa busca e quer conversar? Visite

Publicado na edição 201 do Jornalzinho Ria de 24/02/2007 

 

20

Vejo no espelho. dentro de um adulto a caminho da velhice, uma criança que pensa ser adolescente.
Queria mudar o Mundo, mas não consegui nem mudar a mim mesmo. Sonhei que seria gênio; consegui a medíocre rotina de mais uma segunda-feira por semana. Queria ser único; acabei como só mais um. Pensei em ficar na História; restaram-me RG e CPF.
Diante do fracasso em agir sobre o Universo, resolvi criar mundos de papel e tinta. Escrever Romances? Dá muito trabalho. Contos, poemas? Que preguiça... Hoje, escrevo cem palavras a cada quinzena e, ainda assim, consigo fracassar. Não disse? Faltavam quatro.

Publicado na edição 200 do Jornalzinho Ria de 10/02/2007

 

19

      Há empresas que chamam seus funcionários de colaboradores, parceiros, associados.  A maioria delas, porém, trata-os como se fossem seres de quinta categoria, pagando-lhes salários de fome, pura e simplesmente explorando-os o máximo possível.
            Há empresas, também, que patrocinam concursos e campanhas sobre cidadania, ética, ecologia.  No entanto poluem o ambiente; negam-se a informar se há transgênicos em seus produtos; diminuem o peso destes, alegando, com a maior cara-de-pau, que a diminuição é um avanço tecnológico (mas o preço fica o mesmo, ou até aumenta).
            É muito fácil posar de politicamente correto.  Buscar agir de forma verdadeiramente correta, porém, é difícil...

Publicado na edição 199 do Jornalzinho Ria de 27/01/2007

 

18

        Não confio nas pessoas que se dizem honestas. Primeiro, porque ser honesto não deveria ser visto como algo extraordinário. Segundo, porque quem bate no peito, alardeando sua honestidade, passa a imagem de alguém que se considera Deus, muito acima das imperfeições humanas.
        Prefiro as pessoas que simplesmente dizem ter medo; medo de, como seres humanos que são, falíveis, vaidosos, muito longe da perfeição, fazerem a primeira falcatrua e ficarem impunes. Sabem que, como humanos, vão gostar disso. E vão fazer a segunda, a terceira, quarta...
        Precisamos de menos deuses e mais seres humanos. Precisamos de menos alarde e mais ação.

Publicado na edição 198 do Jornalzinho Ria de 13/01/2007 

 

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               Semanas atrás disse que iria mudar, abandonando vícios e outros hábitos destrutivos. Perguntam-me se mudei. Respondo que o caminho da mudança é muito íngreme, tortuoso, cheio de pedras cortantes, de lama, musgo, ladeado por uns poucos que querem ajudar e por muitos que apostam no tropeço. De fato, tropecei muito, caí várias vezes. Mas sempre voltei ao caminho. Nas quedas, eu me machuquei. Mas sei que também machuquei as pessoas mais importantes para mim. Pedir perdão não basta, sei disso...
          Só posso me levantar mais uma vez, tirar a lama dos olhos, secar as lágrimas e dar mais um passo...

Publicado na edição 195 do Jornalzinho Ria de 02/12/2006 

 

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               Tudo deve ser analisado, criticado, inclusive a Imprensa.  O que muitos dos grandes meios de comunicação fizeram, por exemplo, na última eleição, inventando factóides que não podiam ser provados, deturpando acontecimentos, manipulando mentes, merece veemente repúdio.  O poder da Imprensa é tão grande, que, usado de forma errada, pode destruir, injustamente, pessoas e instituições.
             A melhor defesa que os pensantes podem exercer diante da má Imprensa é, justamente, pensar.  A matéria ou cobertura traz inverdades, deturpações?  Dá a impressão de que atende a interesses particulares?  Parece coisa encomendada, comprada?  Em qualquer dessas hipóteses, mude de jornal, de revista, de canal.

Publicado na edição 193 do Jornalzinho Ria de 04/11/2006

 

15

          Será que um bilionário que tem duzentos helicópteros, quando adquire mais um, tem sua felicidade aumentada? Creio que não. Quando suprimos nossas necessidades vitais, fazemos algo imprescindível e justo. Quando, porém, nós aumentamos os laços de nossa condição de escravos de nossos desejos, de nossos vícios, de nossa vaidade, conseguimos, no máximo, alcançar uma falsa e temporária saciedade. Esta logo desaparece, deixando em seu lugar o vazio de sempre.
         Os ricos só querem ter cada vez mais. Os pobres só gostariam de poder ter como os ricos. E assim caminha a Humanidade, feito rebanho noturno, sem pastor, serpenteando entre precipícios.

Publicado na edição 192 do Jornalzinho Ria de 21/10/2006

 

14

         Num certo dia da História do Universo, um anjo tomou do homem a selvageria bruta, empurrando-o para a vida em sociedade.. Nesse mesmo dia, um monstro tirou sua naturalidade, sua individualidade plena, transformando-o em gado.
         Num certo dia da História de cada um de nós, um anjo nos tirou o egoísmo bruto, ensinando-nos a conviver com os outros. Nesse mesmo dia, um monstro aprisionou nossos sonhos mais ícaros, condenando-nos ao chão.
       O anjo e o monstro são só: a civilização. O resultado colateral: um imenso, intenso e infindável mal-estar.
Assim nasceram as drogas, os fanatismos, as fugas em geral.

Publicado na edição 191 do Jornalzinho Ria  de 07/10/2006

 

13

Ia escrever que as pessoas são loucas.  Muitas participam de passeatas pela paz, mas ignoram, por rancor, parentes  e amigos.
         Percebi, porém, que louco sou eu.  Como posso falar de espiritualidade, se não respeito meu próprio corpo, que posso tocar?  Bebo em excesso, fumo feito chaminé, meu peso é mais do que o dobro do ideal.
         Portanto, dou, hoje, o primeiro passo.  Mudo hoje meus hábitos de comer e de beber.  Procuro hoje ajuda para largar o cigarro.
         Se progredir na caminhada, talvez daqui a quinze dias fale sobre a loucura dos outros.
         Por hoje, minha própria loucura me basta.

Edição 190 de 23/09/2006

12

          Festas são momentos importantíssimos na Vida. Mas isso só é verdade quando a festa significa a comemoração de um projeto realizado, como um ano bem vivido, um trabalho bem feito, uma união feliz. Nossos antepassados preparavam a terra, aravam o solo, jogavam as sementes, cuidavam da plantação. Na colheita, festejavam. 
         Há pessoas, porém, que buscam a festa só pela festa. Comemoram, na verdade, um profundo vazio.
         Mais do que resultados, deveríamos festejar a maravilha de podermos agir.
         Vamos agir, hoje, para que o Mundo seja melhor que ontem. E, quando o amanhã se transformar em hoje, vamos fazê-lo melhor ainda.

Edição 188 de 26/08/2006

 

11

           Somos vaidosos.  Quando fazemos algo de bom para alguém, esperamos algo em troca.  Não temos palavra: somos obrigados a preencher e assinar papéis com nossos compromissos, e, mesmo assim, muitas vezes falhamos.  Pouco ouvimos os outros.  Adoramos uma festa.         
Gostamos quando somos os primeiros, quando somos obedecidos, quando somos louvados.   Somos ciumentos, possessivos, egoístas, egocêntricos.  Sentimos muita ira.  
           Então, diante da morte, do vazio, do aperto, inventamos um deus à nossa imagem.      Passamos a venerar livros, gritar por ajuda, fazer promessas, construir templos monumentais.  Em nome desse deus, chegamos a matar.
            Está na hora de deixarmos que Deus nos invente.

Edição 187 de 12/08/2006

 

10

          Somos todos animais, embora tenhamos nos esquecido disso.  Mas também somos Deuses, por menos que nos lembremos disso.  Todo o mal que existe no Mundo vem desse nosso esquecimento, dessa nossa falta de lembrança.  Em vez de assumirmos nossos lados animal e divino, somos, às vezes, menos que animais; buscamos, quase sempre, ser mais que Deus.  Esse erro gera o ódio, o orgulho, a vaidade, a guerra, seja esta entre dois seres, entre povos, entre gerações.
          Para que o caos volte ao normal, precisamos aceitar nossas limitações.  Mas precisamos, também, buscar nossa divindade perdida.  A tarefa, embora difícil, é possível.

Edição 186 de 29/07/2006

 

09

         O vinho melhora com a idade. Pouquíssimas pessoas são como ele. A maioria, com o avançar dos anos, realça seus defeitos de caráter. O jovem ambicioso se transforma no adulto invejoso, que chega à terceira idade como um poço de despeito e ódio. O adulto que só pensa na luxúria se transforma num idoso que vive cantando garotinhas. O poupador compulsivo vira um verdadeiro muquirana. 
         Existe, porém, no meio dessa triste constatação, uma boa notícia: sempre é tempo de começar a reforma íntima. Ninguém está irremediavelmente condenado ao seu estado atual.          Todos podem mudar. Mas a mudança depende de nós.

Edição 185 de 15/07/2006

 

08

         Ter sucesso na vida pode parecer uma coisa boa, mas também pode significar uma sentença de morte, ou melhor: de uma vida vazia, sem progresso existencial, sem um passo sequer rumo à espiritualidade.  Quem se acha quase (ou mais que) um deus, quem resume o Universo ao seu sucesso, seus bens, fama, poder, não se questiona, não vê por que precisaria pensar em mudar.  Fecha-se nos seus princípios e valores (que julga perfeitos).  É puro egocentrismo.
          Essas pessoas nem chegaram ao patamar da pergunta: acredito em Deus?
          Elas precisam, primeiramente, passar por uma pergunta muito mais difícil: acredito em mim?

Edição 184 de 01/07/2006

 

07

                    Não posso provar, cientificamente, que Deus existe. Não posso provar, historicamente, que Jesus Cristo existiu. Também não posso provar que Buda alcançou a iluminação. Nem que São Francisco obteve os estigmas da Cruz.
           Pensando bem, será que tudo isso é importante?
           Mas eu garanto que, quando enxugamos as lágrimas de quem sofre, sua dor diminui; quando damos um bom conselho, muitas dúvidas recebem uma nova luz; quando perdoamos, o nível do Amor entre as pessoas aumenta. Garanto que, quando ajudamos alguém a comer, a morar, a se vestir, a aprender, brotam sementes de esperança pelo Mundo.
          Isso, sim, é importante.

Edição 183 de 17/06/2006

 

06

          Fiquei sabendo que muitas escolas, públicas e particulares, estimulam a delação entre os alunos. Esses pseudo-educadores deveriam assistir ao filme “Perfume de Mulher”. Talvez aprendessem algo.
          Muitas pessoas gravam telefonemas e conversas, sem o conhecimento de seus interlocutores. Depois, soltam na imprensa.
          Ex-esposas, secretárias, jardineiros, motoristas, ex-aliados políticos contam fatos que só conheceram porque tinham acesso à privacidade das pessoas que agora delatam.
          E o povão gosta desses Judas, desses profissionais do dedodurismo, desses alcagüetes, desses traidores.
          Antigamente, até os piores bandidos tinham e respeitavam um código de honra. Hoje, a falta de honra é estimulada e aplaudida.
          Que tristeza...

Edição 182 de 03/06/2006

 

05

          Todos pedem punição, prisão perpétua, pena de morte. Para os outros. Todos querem honestidade e transparência. Dos outros. Todos querem o sacrifício. Dos outros. Todos querem que as leis sejam obedecidas. Pelos outros.
          Por sua vez, ninguém olha para os próprios defeitos, as próprias deficiências, os próprios erros.
O povo desrespeita as leis, principalmente quando ninguém está olhando. O povo é desonesto.     Engana, mente, trai. Sempre está querendo levar vantagem. Esse mesmo povo, porém, cobra dos políticos e autoridades um comportamento divino.
          Precisamos, sim, mudar o Mundo. Mas se, primeiramente, não mudarmos nosso próprio viver, como poderemos mudar o resto?

Edição 181 de 20/05/2006

 

04

          Estava muito triste, porque não ia poder dar a festa que tinha sonhado para sua filha. Aluguel do salão, comida, bebida, música, tudo era muito caro. E ela estava sem dinheiro para tudo isso.
          Então tentou se lembrar do seu aniversário de quinze anos. Não se lembrava do local da festa, nem do sabor dos doces e salgados. Da música também não se lembrava. Mas ainda sentia o carinho de seus pais, ainda via o brilho da luz dos seus olhos.
          Comprou um pequeno bolo, acendeu uma vela, olhou para sua filha.
          Mãe e filha se abraçaram. Olhos brilharam. Felicidade... 

Edição 179 de 22/04/2006

 

03

         Todos nós, todos os dias, deveríamos ser acordados com três notícias: que estamos com uma doença terminal, que vamos ser presos, que um ente querido morreu.
          Minutos depois, deveríamos receber a informação de que aquelas notícias eram todas falsas.
          Talvez, assim, passássemos a dar valor a esse imenso e indescritível privilégio que é estarmos vivos, que é estarmos livres para percebermos as belezas que nos cercam.
          A maioria das pessoas só está vivendo porque acordou. Na verdade, apenas porque abriu os olhos, pois passa o dia dormindo para o pulsar da vida.
          Precisamos viver cada segundo. Pode ser o último.

Edição 178 de 08/04/2006

 

02

Minha mulher me perguntou se eu queria ir ao cinema com ela.
- Hoje não posso, estou escrevendo um artigo.
Minha filha mais velha me trouxe uma dúvida de Matemática.
- Depois eu te ajudo.
Meu filho me chamou para jogar bola.
- Agora não dá.  Depois.
Minha filha mais nova me convidou para jogar dominó.
- Outra hora.
Escrevi o artigo, mas percebi que podia escrever mais.  E escrevi mais, muito mais.
Terminei o verdadeiro tratado.  Só faltava o título.
Em casa, todos já estavam dormindo.
Escrevi o título, então: “A Importância da Vida em Família”.
Que título bonito!

Edição 175 de 25/02/2006

 

ÁUDIO COM COMENTÁRIO REFERENTE AO TEXTO 02

 

01

          Era uma vez um administrador que, para melhorar o fluxo dos carros na sua cidade, resolveu construir estradas. Derrubaram-se casas, abriram-se estradas. Mas tantas casas derrubaram para construir as estradas, que não havia mais casas, nem carros, nem gente.
          Muitas vezes, no desejo de resolvermos um problema, acabamos criando muitos outros, às vezes até maiores do que o original.
          Todos os mestres ensinaram e ensinam que o melhor caminho é o do meio, do bom senso.Sem dúvida ele é o melhor caminho, mas também é o mais difícil de ser trilhado. A escolha, como sempre, só pode ser nossa.

Edição 174 de 11/02/2006

 

ÁUDIO COM COMENTÁRIO REFERENTE AO TEXTO 01